quinta-feira, 7 de abril de 2022

06 - O SANFONEIRO

06 - O SANFONEIRO

“Se a lua nasce por detrás da verde mata, mais parece um sol de prata, prateando a solidão. E a gente pega a viola e ponteia a canção e a lua cheia, a nos nascer no coração. Não há, ó gente, ó não, luar como esse do sertão”. (Tonico e Tinoco).

Em 1950 o sertão do Paraná estava em plena e acelerada colonização, motivada pelo plantio do “ouro preto”, o saboroso café! A migração era pungente, especialmente de paulistas, mineiros e nordestinos, mas também imigrantes estrangeiros, principalmente italianos, japoneses e até ingleses, os quais, por exemplo, deram origem à cidade de Londrina.

Meu avô mineiro chegou com a família à pequena cidade de Alto Paraná, onde fez Contrato de Arrendamento para plantar café e por ali ficou por três anos. Mas acostumado ao chão pedregoso e arenoso do norte de Minas, foi muito difícil adaptar-se ao barro grudento das chamadas “terras roxas”. Por isso muito viajou pelo noroeste do Paraná à procura de uma região que lhe fosse mais agradável.

Enquanto isso, exceto duas filhas mais velhas e casadas e dois filhos também mais velhos que foram cedo para São Paulo, os demais sete filhos e as quatro filhas trabalharam duramente para desmatar, preparar o terreno, plantar o café e esperar os quatro anos do ciclo frutífero. E os relatos dão conta que não foram tempos de fartura, pois ainda não tinham o costume de plantar hortaliças, verduras ou árvores frutíferas, exceto mandioca.

Entretanto, antes da primeira colheita, após gastar muito dinheiro em viagens, meu avô decidiu por comprar terras na promissora Santa Isabel do Ivaí, perto do rio Ivaí, região arenosa, uma das poucas cidades a terem energia elétrica a partir de um motor estacionário, uma olaria, além de várias serrarias. Naquela época, registra o IBGE a existência de quase 26 mil habitantes, o que era muita gente para a época!...

Depois de três anos de labuta, tão perto de finalmente o café dar a primeira carga, a nova perspectiva de abandonarem tudo e recomeçarem em outras paragens desanimou meus tios e eles debandaram para novos horizontes, novas profissões e outras cidades, principalmente após casarem.

Um dos filhos, após casar, fixou residência em Alto Paraná, aprendeu a profissão de Torneiro Mecânico e isso abriu caminho a outros dois, inclusive o meu pai, mas isso é história para outro momento.

Teve um que resolveu ser Alfaiate e foi para Cianorte. Outro a ser Padeiro e foi para Londrina. Ainda um que voltou para Minas, casou e depois voltou para perto da família em Sansabel, onde exerceu a profissão de Carpinteiro por muitos anos.

No fim, apenas dois filhos desbravaram o novo sítio lá no “Barraco de Zinco”, além de meu avô mineiro, pois o último filho ainda era criança.

Naquela época, para cada habitante urbano, outros três estavam em zonas rurais. E o planejamento de colonização dividiu toda a grande região em ramais e sítios de dez ou vinte hectares. Era praxe erguerem três ou quatro casas em cada sítio, já que as famílias eram quase todas acima de dez pessoas, com alguns filhos casados ou mesmo irmãos de negócios, qual o exemplo de meu avô italiano.

E a cada dez quilômetros era padrão a existência de uma venda de mantimentos e bebidas, mas principalmente a instalação de um campo de futebol e uma Igreja!

Formavam-se comunidades expressivas e competitivas, por exemplo, a região do ramal sete, a região do ramal vinte e seis e que depois virou a cidadezinha de São José do Ivaí, até casos de futuros municípios qual o exemplo de Santa Mônica.

Certamente o futebol era o principal agente agregador de pessoas e realizam-se disputados torneios entre os ramais, onde formigavam pessoas das mais variadas regiões!

No ramal dezoito, além de dois mercadinhos, ergueu-se uma significativa Igreja Católica e um grande Colégio Primário com um barraco de festa ao lado, coberto por telhas de zinco, coisa incomum naquela época! Com o tempo, as pessoas deixaram a designação de ramal dezoito e passaram a simplesmente falar “Barraco de Zinco” ou mais popularmente: “Barraco”.

Meu avô italiano viera com a família da região de Avanhandava SP e em sociedade com os irmãos compraram um sítio de vinte hectares, distante uns três quilômetros do referido colégio, onde depois minha mãe arrumou o emprego de Professora primária! Isso deu a Nizita um status de valorização não apenas familiar, mas em toda a comunidade!...

Por outro lado, meu avô mineiro comprara um sítio de dez hectares bem mais adiante, uns quatro quilômetros do referido colégio. Os primeiros anos foram de muita luta, quase questão de sobrevivência, pois do dinheiro que meu avô mineiro trouxera de Minas sobrara apenas o suficiente para comprar o sítio, após tanta gastança nos três anos em Alto Paraná, sobretudo a luta em desmatar e iniciar o plantio do café no longo ciclo de quatro anos. Lá em Minas faziam farinha, rapadura, queijo e principalmente criavam gado! Agora era tudo diferente...

Em cada sítio, além das casas, era comum a existência de um grande terreirão destinado a secar o café após a colheita. Era um interminável trabalho em rastelar o café para lá e para cá, para que secasse uniforme. Isso na época de colheita. Eventualmente era usado para secar amendoim. Nos demais meses, o terreirão virava local de diversão para as crianças e eventualmente local de baile em determinadas noites festivas!...

Naquela época os jovens sonhavam em ser jogadores de futebol ou formarem uma dupla sertaneja!... Por exemplo, Milionário e José Rico (Terra Rica PR) ou Chitãozinho e Xororó (Astorga PR). Meu pai não tinha habilidade de jogador, mal era aceito como zagueiro, então a ele sobrou aprender a tocar violão e sanfona.

E lá no sertão, nas noites de luar, o som da sanfona fluía vigorosamente no silêncio da noite e os treinos infindáveis de meu pai facilmente chegavam ao sítio onde a Nizita ficava à janela a escutar o melodioso som e a sonhar com o jovem e atraente mineiro do sítio da baixada!...

E como diria o meu pai: “Numa ocasião”, eis que o chamaram para tocar num Baile de Terreirão, coisa que ele já fizera antes. O conceito de circo era muito conhecido naquela época onde mal existia o rádio. Então era comum usarem várias lonas destinadas a cobrirem o café no terreirão nos dias chuvosos e formarem uma grande arena de circo para o baile!... No meio colocavam uma mesa destinada ao sanfoneiro tocar a noite inteira, enquanto os casais rodopiavam ao redor. Nas beiras da lona ficavam vários bancos destinados às donzelas em seus vestidos floridos a esperarem que seus tímidos pretendidos tivessem a coragem de convidá-las.

E num desses bailes, após tocar várias músicas do cancioneiro regional, o jovem mineirinho de tanto ver a professorinha dançar, com toda a tradicional alegria italiana, mas sem nitidamente mostrar preferência por algum consorte, até o contrário, parecia que ela furtivamente estava a lhe cortejar, então o jovem sanfoneiro chamou um companheiro de aventuras musicais e repassou-lhe a sanfona!...

E não perdeu tempo! Cortejou a jovem Professora e a química foi instantânea! Eles dançaram o resto da noite qual casal de jovens pombinhos!... O baile perdeu o tradicional sanfoneiro e as matriarcas ganharam uma novidade a repassarem de boca em boca no dia seguinte!...

O romance fluiu nos próximos dias, as famílias se conheceram, até surgiram conversas adversas, pois era evidente a diferença e até contradições entre os costumes mineiros e os italianos. Como poderia dar certo tal relacionamento?... Mas quero ver conseguir explicar isso ao amor, menos ainda à paixão!... Por fim, casaram!... E meu avô mineiro destinou uma bonita casa, ao lado da casa grande, para o jovem casal morar e fazer o ninho de amor.

Foram felizes por cerca de quatro anos. Nasceu um casal de filhos e fui o primeiro. Quando minha mãe estava grávida de sua segunda filha, eis que algum imprevisto aconteceu lá no sítio do avô italiano, pois resolveram separar a sociedade e cada irmão italiano resolveu seguir seu destino. A Nizita sofreu muito com a perspectiva de ficar longe da família, tanto que acabou por convencer o meu pai a também seguir com os sogros para Cambira PR, onde meu avô comprara um sítio.

Claro que também teve de convencer ambos os pais, mas para o lado italiano, o conceito de manter toda a família unida era praticamente uma religião, então a ideia foi facilmente aceita. Mas no lado mineiro a iniciativa foi muito questionada!... Meu avô mineiro viu aquilo como uma grande traição!... Ele destinara a casa com tão boa vontade e agora iriam embora?... E além de dois filhos, sendo um apenas um jovem, quem iria ajudar na manutenção do sítio?...

Mas meu pai foi embora. E isso teve consequências quando voltou qual filho pródigo. Infelizmente para o meu lado também teve, pois se não bastasse a tradicional displicência ao filho mais velho em detrimento a necessidade de atenção aos mais novos, a rusga do bananal demorou mais de dez anos para evaporar e os atritos futuros fizeram-me conhecer o lado amargo da vida...

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Do livro: MEMÓRIAS do Menino Esquecido.

ISBN: 978-65-00-38553-3

Registro Autoral CBL - DA-2022-017822.

© Sobrinho, José Nunes Pereira. – Todos os direitos reservados, proibida a reprodução parcial, total ou cópia sem permissão prévia do Autor ou Editora.

 

Se quiser, por favor, compre o livro. Abaixo o link:

MEMÓRIAS do Menino Esquecido, por José Nunes Pereira Sobrinho - Clube de Autores 

 

07 - A TIGELA

07 - A TIGELA

Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?... E quem irá dizer que não existe razão?... (Legião Urbana).

Embarcamos no Jipe e deixamos Cambira. Na verdade, um comboio de três Jipes e um caminhão nas poeirentas estradas até Maringá, depois Nova Esperança, Paranavaí, Planaltina e por fim Sansabel, em quase três longos dias para transportar as famílias e a pouca mobília da época.

Eu ainda sentia as dores do ferimento na perna, mas dificuldade maior recaia sobre minha mãe, naquele mês de novembro de 1965, não apenas pelos recentes problemas com o meu pai ou os exigentes cuidados na amamentação da primeira filha, mas principalmente por causa da enorme barriga, situação que preocupava a todos!... Por isso, fiquei esquecido na intrépida jornada e até desconfio que a tenha feito em cima do caminhão, com os meus tios.

Meu avô italiano era bem sagaz. Vendera um sítio de vinte hectares e agora voltava para outro de dez, mas com uma significativa diferença: Antes era sócio com mais dois irmãos, agora seria dono único!...

E contava com dois filhos adultos para terminarem de desmatar e construírem uma nova casa mais perto da estrada, pois a antiga estava na baixada do riacho nos fundos da propriedade.

Infelizmente a meu pai coube retornar ao sítio do avô mineiro, em situação pródiga e humilhante, tanto que não pode ocupar à antiga casa onde nasci, a qual estava prometida ao filho mais novo, quando casasse. Mas nem seria possível, pois em novembro de 1965 era temporariamente habitada por uma das filhas recém-casada, a qual depois foi com o marido para Rondônia.

Havia outra casa, também em boas condições, a qual antes era ocupada pela família do irmão parceiro de meu pai em todas as atividades e empreitadas, até na tentativa de formação de uma dupla sertaneja.

E coube a esse irmão tocar o sítio quando meu pai foi embora. Entretanto, ele também desistiu e foi para Guarulhos SP, onde virou Marceneiro. E essa outra casa, em situação similar a primeira, estava ocupada por outra filha, por coincidência, casada com um dos filhos de um irmão do avô italiano.

No fim, os parentes construíram um ranchinho para a família de meu pai, com paredes de troncos rebocadas com barro e capim, de chão batido como piso, cobertura de telhas de madeira cortada do tronco de coqueiros macaúba. Tinha apenas dois cômodos: Uma cozinha e o quarto para os dois adultos, o casal de filhos e mais uma a caminho.

Depois de construída, meu avô mineiro chegou a cavalo, olhou a precariedade do ranchinho, mas ainda rancoroso e magoado, fez pouco caso e falou:

– É!... Para qualquer bagual serve!...

Quarenta anos depois eu voltei ao local. A casa onde nasci não existia mais, apesar de um monte de terra a indicar o local. A casa grande sequer tinha sinal. Idem quanto à outra casa do irmão violeiro de meu pai. Mas o ranchinho ainda estava de pé! Era garagem para uma carroça, mas estava firme e forte!...

Bagual é cavalo novo recém domado. Meu pai engoliu em seco e ficou calado. Situação desesperadora?... Nada disso! Meu pai estava muito satisfeito, pois voltara a fazer o que gostava, tanto em caçar, quanto em pescar no riacho aos fundos do sítio, fora aventuras no rio Ivaí ou no piscoso rio Taquara!...

Os meus tios italianos até ironizavam ao dizer que bastava surgir uma nuvenzinha lá longe no céu e o “Girso” largava a enxada e ia pescar!...

Uma vez ele me levou para pescar no sítio do vizinho, onde havia uma prainha e um represamento natural a formar uma agradável piscina de águas límpidas e convidativas ao banho.

Também era a lavanderia, pois contava com duas pranchas de peroba com uma ponta sob a água e a outra bem acima, sob dois troncos enfiados no chão, para permitir bater a roupa ao lavar, por isso, era chamado de “batedor”.

Lógico que esse local não era adequado a pescar, exceto lambaris!... Todavia, próximo instalaram uma pinguela, espécie de ponte pouco confiável, basicamente dois troncos estirados a cruzar o riacho, a qual permitia passar para a outra margem e adentrar em locais densamente dominados por capim navalha ou das taboas de brejo. E ali sim era o local de pesca de meu pai!...

Minha mãe contava uma história irônica sobre essa pinguela, pois também possibilitava às jovens donzelas frequentarem os bailes do outro lado, onde existia outra comunidade!...

Confidenciou-me a dona Nizita que certa vez, uma tia se arrumou com o melhor vestido, passou batom, colocou a maquiagem da época que era o pó de arroz, mas ao tentar cruzar a pinguela, mesmo com todo o cuidado e lua cheia, escorregou e caiu na água!...

Eu gostava de nadar no riacho e das algazarras que fazíamos com os tios e primas, mas ainda não tinha o gosto pela pescaria, exceto se fosse de peneira, para pegar cascudo, carás, pequenos bagres, lambaris e espadinhas.

E naquele dia meu pai me levou para o outro lado da pinguela e ficamos no meio do mato, entre as taboas, na eterna paciência budista de esperar algum peixe morder a isca. De repente, o mato começou a se mexer mais abaixo e as taboas a dobrarem-se sobre as águas!...

– É uma sucuri!... Exclamou meu pai assustado!...

As histórias de que existia uma sucuri gigante naquele riacho há muito atormentava os frequentadores, mas aquela foi a primeira vez que meu pai constatou de fato a sua existência!...

Imediatamente ele pegou as varas de pesca, agarrou-me pelo braço e passou a pinguela numa agilidade impressionante!... Pouco minutos depois estávamos muito longe do local!

Depois disso, por muitos anos, vez ou outra em tinha o pesadelo de estar nessa pinguela e escutar a sucuri vir me pegar!... Até perdi para o resto da vida o gosto por pescar.

E no caso de meu pai, a situação se repetiu décadas depois, já na cidade de Naviraí, mas não com uma Sucuri, isso de acordo com os relatos da dona Nizita.

Eles foram fazer uma breve pescaria no rio Amambaí, numa estrada conhecida como “Balsinha” e levaram um dos netos. Como de costume, meu pai não se contentava em pescar em local aberto, pois dizia que os peixes estavam em locais ermos, nas margens fechadas por algum mato. Por isso, aventuram-se pelo matagal, novamente através do capim navalha e as taboas.

Lá pelas tantas, escutaram uns rugidos um pouco acima de onde estavam!... Era uma onça!... Imediatamente meu pai pegou as varas de pesca e velozmente adentrou o capim navalha em direção à estradinha onde deixara a velha Toyota!...

Minha mãe pegou o neto no colo e desesperadamente o seguiu uns dez metros atrás!... Quando finalmente estavam em segurança dentro do carro, minha mãe questionou:

– Girso!... Você nos deixou para trás!...

– Claro que não! – Justificou o meu pai. – Não viu que eu estava amassando o capim e a abrir caminho para vocês passarem facilmente?...

Aliás, não foram poucas às vezes onde os parentes da família italiana viajaram à Naviraí para visitar os meus pais, sobretudo, porque também gostavam da oportunidade de conhecerem os rios da região em muitas pescarias. O meu pai sempre foi o mais italiano dos mineiros.

Numa dessas vezes, quando fui visitar os meus pais com minha esposa e filhos, eis que reencontrei os tios, primas e demais familiares!... Alguns de Cambira, outros de Sarandi e Maringá. E conversa vai, conversa vem, muitas risadas, eis que nos lembramos da tal tigela, a qual ainda estava intacta depois de quarenta e cinco anos!...

Somente então nos demos conta da preciosidade daquele talismã a proteger o casamento do sanfoneiro mineirinho com a Professora italiana por quase cinquenta anos!...

Então todos quiseram tocar e beber “água” na preciosa tigela, a qual passou com todo o cuidado de mãos em mãos de diversos casais, até de alguns solteiros, tudo para dar sorte!...


E finalmente entendi o mistério lá de Cambira, quando derrubei o armário ao tentar pegar o martelo e todos os utensílios de vidro e cerâmicas espatifaram-se no chão, mas permaneceu intacta a singela tigela, pois no futuro seria prova de amor!...

Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?... E quem irá dizer que não existe razão?... (Legião Urbana).

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Do livro: MEMÓRIAS do Menino Esquecido.

ISBN: 978-65-00-38553-3

Registro Autoral CBL - DA-2022-017822.

© Sobrinho, José Nunes Pereira. – Todos os direitos reservados, proibida a reprodução parcial, total ou cópia sem permissão prévia do Autor ou Editora.

 

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MEMÓRIAS do Menino Esquecido, por José Nunes Pereira Sobrinho - Clube de Autores 

 

08 - AS ORIGENS

08 - AS ORIGENS

“Quem é rico mora na praia, mas quem trabalha, não tem onde morar. Quem não chora dorme com fome, mas quem tem nome, joga prata no ar. Ô tempo duro no ambiente, ô tempo escuro na memória, o tempo é quente e o dragão é voraz”. (Fagner).

A sobrevivência é um dragão ao devorar o tempo. A vivência é uma fonte a fornecer oportunidades e lembranças. Ninguém pode dar aquilo que não tem. Nossos pais nos repassaram até ao limite daquilo que receberam ou aprenderam da vida, com o agravante da sobrevivência impor outros cuidados urgentes e assim é quase natural a filhos mais velhos ficarem para depois, para não escrever à revelia.

O problema é que o relógio gira incansavelmente e esse “depois” nunca chega, pois o dia acaba, passa outra semana, por fim outro mês e de repente, mais um ano!... E alguns filhos seguem esquecidos na curva do estigma de apenas um ou dois anos “mais velho”!... E por ser uma criança ativa, desde pequeno, fiz coisas ruins aos olhos adultos, entrei numa espiral inversa de sobrevivência a qual parecia um poço de agonia!...

Contudo, não posso continuar a relatar minhas aventuras desbravadoras, sem antes explicar as origens, pois preciso falar do mistério que fez meu avô deixar Minas e que depois fez meu pai regressar à terra natal sem saber se corria algum perigo. Se ele não tivesse retornado ao sertão do Paraná, nada de sanfona ou da Professora italiana. E talvez eu não existisse para relatar essas aventuras.

E até nisso a sobrevivência gera diferenças culturais, pois consigo encontrar registros históricos de antepassados mais abastados, mas quanto aos menos afortunados, sequer existe registro de nomes!...

Meu avô italiano, Ângelo Beraldo, chegou ao Brasil no início do século passado quando tinha três anos. Foi para Avanhandava, interior de São Paulo com outros dois irmãos. Cresceu, trabalhou, ganhou dinheiro, comprou terras, sempre em sociedade com os irmãos. Ali se casou com Marcelina Pellegrini, filha de imigrantes italianos. Teve cinco filhas e quatro filhos. Junto aos irmãos, comprou uma “Jardineira”, ônibus típico da época e fez por uns tempos o transporte de passageiros na região. Por fim, foi para Sansabel, na onda da febre do “ouro preto”, o precioso café. Mas quais foram os meus bisavôs lá na Itália?... Quais os nomes?...

Eu sei que a minha avó Jovelina era descendente de Perpétua Mineira. Pela certidão de casamento de meu avô, sei que um dos meus bisavôs tinha o nome de Generoso Xavier da Silva, casado com Ana Perpétua de Jesus. O outro tinha o nome de Severino Nunes Pereira, casado com Henedina Camargo Rebouças.

Os registros na internet dão conta que a minha bisavó Henedina, também era chamada de Enedina Camargo “Nunes Pereira”, cujo pai, portanto o meu bisavô, era Manuel José Rebouças, o qual era parente de Antônio Pereira Rebouças, Advogado, Monarquista, Abolicionista, Deputado e amigo da Família Imperial.

São inúmeros os registros quanto aos Rebouças, pois o Antônio casou-se com Carolina Pinto, uma negra liberta pela lei de ventre livre e deram origem a dois célebres Engenheiros do Brasil Império, o também Antônio Rebouças e o André Rebouças, ambos negros, os quais dão nomes a muitas praças e avenidas em várias cidades do Brasil.

Entretanto, pouco registro existe quanto à origem da família de meu bisavô Severino Nunes Pereira. É amplamente conhecido que os “Cristãos Novos” colonizaram o Brasil, principalmente depois do Rei Felipe II de Espanha herdar também a coroa de Portugal, após Dom Sebastião desaparecer em uma batalha no Marrocos, isso no final da década de 1580.

Mas bem antes, na virada do primeiro milênio da era cristã, os Judeus foram obrigados a fugir ou a se converterem ao Catolicismo, no período mais tenebroso da idade das trevas, quando qualquer acusação permitia abrir processo junto aos Inquisidores. As famílias judias mudaram seus sobrenomes para temas vinculados à natureza, pois poderiam se identificar sem correr o risco. Assim surgiu a família Pereira.

Mas como diriam os antigos, isso foi “um tiro no pé”, pois com o tempo todos sabiam perfeitamente quais famílias, mesmo com cargos ou títulos prestigiados na realeza, eram “cristãos novos” e, portanto, indicados a colonizar o Brasil!...

E são tantos os registros de Pereiras nessas condições, desde o ano de 1532, com o donatário da Capitania Hereditária da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, até ao alfaiate Manuel Pereira Rebouças quase três séculos depois, de forma que fica impossível identificarem os antepassados de meu bisavô Severino Nunes Pereira, exceto que era “cristão novo”, ainda mais com o “Nunes” no nome, família amplamente perseguida pelos Inquisidores, inclusive, no Brasil Colônia!...

E o que isso importa?... Se não há registro, é indicativo de pobreza. Mas para o meu lado, em nada!... Mas importou para o meu pai e desde pequeno, pois foi obrigado a aprender a escrever com a mão direita e diziam que os canhotos eram contra Deus, pois supostamente todos os judeus mataram Jesus!...

O meu bisavô Severino era dono da enorme fazenda Pedra Redonda e da não menor fazenda Rio Verde e conforme relata meu pai, levava um dia inteiro a cavalo para atravessá-la!...E de onde veio essa riqueza?... Qual a origem?... E por que os primos de meu avô Eurico não contavam com tamanha abastança?...

Em minha opinião, toda essa riqueza veio por herança da bisavó Enedina Rebouças! Isso explica porque tudo foi repassado ao meu avô Eurico, filho homem, restando à outra filha casar e viver os restos de seus dias em Adamantina SP.

E desconfio que meu avô Eurico fosse Republicano, pois colocou o nome de “Brasilina” em sua primeira filha, totalmente em desacordo com as tradições de somente usar nomes bíblicos ou de antepassados. Por outro lado, o bisavô Severino era declaradamente monarquista e não tinha escravos em suas propriedades, em consonância com as tradições da família Rebouças. Enfim, a política divide famílias há séculos!...

Aliás, muitas décadas depois, contou-me o meu pai, um domingo ele foi pescar numa ilha do rio Amambai, via saída para o Porto Caiuá. Era um dia ruim e não pegava nem os tradicionais mandis, quanto menos um agradável piau ou quem sabe um saboroso dourado!... Por fim, resolveu fumar num banco próximo e conversar com um senhor negro muito velho também a pitar.

Conversa vai, conversa vem, ambos com a típica maneira de pausar cada palavra lá do interior de Minas, logo ficou claro que eram mineiros!... E para o espanto dos dois, mineiros de Espinosa!... Mais ainda!... Ambos de Mamonas, um distrito de Espinosa!...

– Uai!... – Exclamou o velho do rio, mais para “Pai Velho” com seus cabelos brancos. – Qual o nome de sua família?...

– Eu sou dos Nunes Pereira!... Respondeu o meu pai.

– Ara, sô! – Falou o velho. – Eu também sou Nunes Pereira!...

Meu pai ficou abismado e sem palavras. Era de conhecimento geral a existência de antepassados negros na família e não apenas do lado dos Rebouças, tanto assim que até os dias atuais, vez ou outra, nasce um descendente moreno. E praticamente todos possuem manchas negras pelo corpo, a indicar a miscigenação com tupis guaranis, brancos e negros! Mas os engenheiros Rebouças seriam morenos ao comparar com aquele sinhozinho!...

Então o velho explicou que ele era um escravo liberto das fazendas de meu bisavô Severino, mas nunca foi na verdade escravo, pois eram tratados com muita dignidade e respeito, além de moradias adequadas. Quando teve a Proclamação de Libertação em 1888, muitos pediram e ganharam terras nos extremos das divisas, já que as fazendas eram imensas. Por ausência de referências nativas, era comum aos negros adotarem os sobrenomes dos donos das fazendas e assim ele passou a ser também um Nunes Pereira!...

O velho só faltou chorar de tanta emoção, pois depois de tanto tempo e andanças pelo mundo, poder encontrar um descendente de sinhozinho Severino foi uma benção de Deus!... E ficaram a conversar, até o sol sumir no horizonte!...

Ainda lá em Minas, os dois filhos mais velhos de meu avô foram embora para São Paulo tão logo chegaram à maioridade. Um virou Marinheiro e depois Mecânico em Santos. Outro virou Mecânico e depois Motorista, mas de tanto dar cabeçadas na vida, quando envelheceu foi morar justamente em Naviraí!...

Isso eu vi com os meus olhos. Num bonito domingo de sol, fomos pescar na tal ilha do rio Amambai e no caminho encontramos o irmão mais velho de meu pai e uma amasiada, acampados na beira do rio em sua velha caminhonete C-14!... Acompanhei a prosa dos mineiros até findar o dia, enquanto me deliciava com a oferta do doce de casca de laranja do mato...


Uma semana depois, para variar as recreações, novamente fomos pescar na mesma ilha e de novo o encontramos!... Como se também não estivéssemos a fazer a mesma rotina, meu pai falou:

– Uai!... Também voltou?...

– Que nada, sô! – Ele falou com aquele jeito mineiro. – E quem falou que eu fui embora?...

Ele tinha ficado a semana toda na beira do rio!...

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Do livro: MEMÓRIAS do Menino Esquecido.

ISBN: 978-65-00-38553-3

Registro Autoral CBL - DA-2022-017822.

© Sobrinho, José Nunes Pereira. – Todos os direitos reservados, proibida a reprodução parcial, total ou cópia sem permissão prévia do Autor ou Editora.

 

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09 - A SECA

09 - A SECA

“Quando olhei a terra ardendo, tal qual fogueira de são João, eu perguntei a Deus do céu: Aí por que tamanha judiação?... Que braseiro, que fornalha, nem um pé de plantação. Por falta d'água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão”. (Luiz Gonzaga).

No início da década de 1940 uma longa seca assolou o Nordeste e afetou a pequena propriedade no vale verde do outro lado da serra, em Espinosa MG, onde residia o meu avô Eurico. Pior situação aconteceu nas duas fazendas, onde todos os regaços quase secaram e imensas queimadas iluminaram o sertão, levando à morte quase toda a criação bovina de meu avô!...

E a cumprir o ditado, “Deus dá, Deus tira”, eis que alguns anos depois meu avô ganhou uma boa quantia em Salvador, na Loteria da Bahia, cidade a qual visitava com frequência e comprara o bilhete!... Por opção, preferiu adquirir uma grande boiada em Belo Horizonte MG, por intermediação de um médico, velho amigo da família. Infelizmente, por fatalidade, alguns bovinos estavam doentes e contaminaram até as rezes que sobreviveram à seca e após algum tempo tudo estava perdido!...

Sem gado, nada de carne, leite, queijos, peles e menos ainda recursos financeiros com a venda. Por outro lado, ainda era possível enfrentar a situação, pois o pequeno sítio propiciava a plantação da cana de açúcar, o que gerava a garapa e rapaduras ou mesmo o cultivo de mandioca, pois o consumo da farinha e polvilho sempre foi tradicional, fora abacaxis, bananais e outras culturas.


Entretanto, os irmãos Xavier de minha avó e a filha Brasilina migraram para o Paraná no início da década de 1950 e meu avô decidiu vender tudo e também buscar uma vida mais tranquila no próspero Paraná!... Mas não foi fácil vender as fazendas. Dizem que envolveu alguns parentes na compra, mas sem definir se eram da parte dos Xavier, Pereira ou Rebouças. Fato concreto é que meu avô recebeu uma quantia de entrada, com a promessa de mais três parcelas anuais pelos próximos anos. Há também conversas de que a venda ocorreu a um grupo americano, para exploração de minérios e pedras preciosas, vinculando o pagamento à produção.

Foi por isso que a família permaneceu na cidade de Alto Paraná, pois ano a ano, diversas vezes, meu avô compareceu à Agência do Banco do Brasil em Maringá PR. Não há registro de como fizeram essas vendas e quais documentos foram firmados. É provável que tenha efetuado as transferências das Escrituras em Cartórios, pois eram supostamente pessoas confiáveis. Meu pai acompanhou meu avô algumas vezes à Maringá, mas o dinheiro nunca chegou. Talvez sem produção, sem pagamentos...

Por fim, meu avô vendeu o arrendamento em Alto Paraná e comprou o sítio em Sansabel no “Barraco”, onde já residia sua primeira filha, a Brasilina. Mas a história da venda das fazendas ecoou por muito tempo. Não existia celular e o telefone era para poucos em grandes centros urbanos. Não há registros de cartas e a única ação concreta foi enviar o meu pai para “assuntar” a situação, já que os filhos mais velhos ou casaram ou buscaram outros destinos.

Meu pai recém completara dezoitos anos e estava muito empolgado com a viagem, pois queria muito rever a casa branca lá na serra!... Saiu de Minas um menino e voltaria um adulto!... Porém, além de não ser orientado quanto aos objetivos ocultos da viagem, também teve uma peculiar recomendação:

– Na “vorta”, você compra duas cartucheiras em “Sum” Paulo!... Determinou o meu Avô.

Naquela época era comum viajar de trem por todo o Brasil por um baixo custo!... Meu pai foi de ônibus até Maringá, pegou o trem até Bauru, depois outro até São Paulo e assim sucessivamente até chegar a Mamonas, distrito de Espinosa, a última cidade antes de entrar em território Baiano. (Não confundir com o município de Mamonas).

Estava eufórico após a longa viagem!... Queria visitar todos os parentes!... Cada riacho na serra; cada vereda no campo; aquele mesmo campo onde o meu pai e mais quatro irmãos, uns oito anos antes, foram se aventurar e um irmão mais velho resolveu colocar fogo na vegetação seca!... A caatinga queimou por três longos dias!... De longe avistavam a fumaça e as chamas no horizonte!... Até o Delegado percorreu todas as fazendas, a questionar quem teria feito tamanha maldade!... Enfim, visitar a misteriosa pedra que se equilibrava em outra absurdamente minúscula; rever os imensos paredões onde o dia começava às nove horas e às três da tarde o sol sumia...

 

De início, visitou alguns parentes e nem percebeu se havia alguma animosidade. Aliás, difícil extrair de um mineiro algum entusiasmo ou antipatia. É sempre uma conversa mansa, boa prosa e cordialidade, perguntas desconexas, mas objetivas. O fato é que logo encontrou um amigo da família, pelo que entendi, o mesmo que fizera o facão para minha avó, o qual rapidamente levou o meu pai para o seu rancho, onde permaneceu até o dia de regressar. O tal amigo só apresentou um semblante aliviado quando o “Girsin” embarcou no trem!...

Desembarcou em São Paulo e deveria cumprir a expressa recomendação. Saiu com sua mala típica da época, dessas feitas com laminado marrom a imitar madeira. Estava com fome. Entrou numa lanchonete de parada de ônibus. E qual não foi sua surpresa ao encontrar seu irmão mais velho a tomar um café, com a típica farda de motorista de ônibus!

– Fulano!... Que surpresa encontrá-lo aqui! – Exclamou o meu pai.

– Não sou esse não! – Apressou-se em corrigir o tal homem.

– Uai sô! – Estranhou o meu pai. – Não está me reconhecendo?... Sou o Gilson, seu irmão!...

– Era o que me faltava!... – Resmungou o sujeito contrariado. – Mas não podemos conversar aqui. Vamos lá fora...

– Mas por quê?... Perguntou o meu pai, sem entender.

Saíram para um local afastado, quase atrás de um ônibus. E meu tio explicou:

– Não entenda mal. Eu também estou feliz em vê-lo assim, homem feito! – E após um silêncio profundo, prosseguiu: – Mas é muito suspeito!...

– Não entendo... – Questionou o meu pai. – Você sumiu! Não dá notícias há tempos!... Eu ainda era menino quando sua esposa e seus filhos chegaram à Estação de Mamonas. Disseram que você sumiu durante a viagem!...

– Pois é... – Justificou o meu tio. – Tive de fazer isso!... Eu me envolvi numa confusão quando era Motorista de Táxi e precisei deixá-los em local seguro, pois era perigoso se ficassem ao meu lado. Se eu morresse, quem cuidaria deles aqui em São Paulo?... A melhor solução que encontrei foi levá-los para a casa de nosso pai lá em Minas...

– Você é Motorista desse ônibus?... Você faz essa rota para Nova Andradina, lá no Mato Grosso?...

– Mas que caca de galinha, Gilson! Quem deu essas informações a você?... Só falta dizer que já passou lá em casa e conversou com minha esposa e filhos!...

– Você tem outra família?!... Exclamou o meu pai admirado.

– Para com isso Gilson!... Vai dizer que foi só coincidência a gente se encontrar e até sabe qual rota eu faço?!...

– Eu li no letreiro do ônibus... Juro por nossa mãe!...

– Só pode ser brincadeira do destino... – Injuriou o meu tio. – Você não poderia aparecer em pior momento!...

– Não entendo...

– Não percebe?... Se você me achou, outros podem achar!... Agora eu estou em risco e a minha atual família também!...

– Meu irmão, não foi minha culpa!... Eu só entrei para comprar um pão com mortadela e tomar um café!...

– Ara, sô!... Para cima de mim com essa conversa?... Saiu lá de Espinosa para tomar um café aqui em São Paulo?...

– Não é isso!... Eu vim de Minas, mas fui lá a passeio!... Agora moramos num sítio no Paraná e nosso pai falou para passar em São Paulo e comprar duas cartucheiras!...

Foi assim que o meu tio orientou o meu pai onde poderia comprar as tais espingardas, isso após muitas explicações, pois meu tio ficara estupefato com as notícias recentes e também com o inusitado encontro. E na despedida, encarecidamente pediu:

– Gilson, por favor, não conte a ninguém sobre o nosso encontro, senão serei obrigado a sumir outra vez!...

E antes de embarcar no trem para Bauru, ainda na estação, dois Policiais pararam o meu pai, exigiram documentos, qual origem, para onde iria e por fim questionaram qual o conteúdo da mala, onde estava a preciosa carga, devidamente desmontada. Mas meu pai teve sangue frio e após deitar a mala ao chão, cuidadosamente a abriu, de forma a aparecer somente o conteúdo pessoal. Então, respondeu:

– São as minhas roupas!...

De fato, eram as roupas por cima. Falara a verdade com tamanha convicção que os Policiais desistiram de averiguar, já que era apenas mais outro matuto lá de Minas. Desejaram boa viagem e assim aconteceu. Dois dias depois o meu pai chegou ao sítio lá no “Barraco”!

A vida de sanfoneiro prosseguiu e seis anos depois eu nasci!...

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Do livro: MEMÓRIAS do Menino Esquecido.

ISBN: 978-65-00-38553-3

Registro Autoral CBL - DA-2022-017822.

© Sobrinho, José Nunes Pereira. – Todos os direitos reservados, proibida a reprodução parcial, total ou cópia sem permissão prévia do Autor ou Editora.

 

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MEMÓRIAS do Menino Esquecido, por José Nunes Pereira Sobrinho - Clube de Autores 

 

10 - FRITURAS

10 - A FRITURA

Levava uma vida sossegada. Gostava de sombra e água fresca. Meu Deus, quanto tempo eu passei, sem saber!... (Rita Lee).

Fazia quase um ano que retornáramos de Cambira. Mal dava para notar a cicatriz do corte na perna. Nascera a segunda filha. Minha mãe estava conformada com a precária situação no ranchinho de terra batida, afinal, a vida era boa, meu pai sempre trazia alguma caça, pois era hábil com a cartucheira vermelha ou mesmo variedade de peixes, além de ovos azuis e carne de galinha de Angola!

E finalmente permitiram que eu fosse junto à cidade!... Percorremos os vinte quilômetros numa velha carroça puxada por um paciente cavalo. Na cidade, praticamente todos os sitiantes deixavam suas carroças num terreno baldio logo na entrada, um ao lado do outro e amarravam os cavalos em alguma beira de rua onde o capim fosse farto. Também existia locais com bebedouro para os animais, logicamente fornecidos por gentis comerciantes, desde que comprasse em seus estabelecimentos. Nessa condição, lembro-me bem de um Açougueiro quase na esquina, dois quarteirões acima da Prefeitura.

Eu era um pirralho com um pouco mais de meio metro. Mas nunca esqueci essa viagem porque fiquei encantado quando passamos em frente à Loja Pernambucanas! Achei maravilhosos aqueles tecidos de todas as cores pendurados nas imensas portas!... Era tudo muito bonito e colorido e parecia que eu estava flutuando no ar, mas em verdade, era o meu pai a segurar-me a mão e puxar para frente, qual uma “malinha”!...

Oito anos depois quis o destino que eu fosse trabalhar justamente nas Casas Pernambucanas!... E passei muito tempo sem entender, por que eu achara imensas aquelas portas!... Um mistério!... Eram portas normais!... E levei anos para entender que tudo era uma questão de perspectiva!... De tão pequeno, as portas pareciam enormes em relação ao meu tamanho!... Mas não foi o meu primeiro contato com a tal da perspectiva.

Lembro-me que sempre falavam em hectares, mas hoje eu só consigo raciocinar em metros. E sei que cada sítio de dez hectares tinha um pouco mais de cem metros entre as divisas. Interessante que os sitiantes fizeram as casas para suas famílias praticamente numa mesma faixa, cerca de mil metros abaixo da estrada. Com isso, criou-se um espaço aberto e contínuo entre os sítios, o que propiciou melhor convivência, conhecimento entre todos, muitos namoros e casamentos!... Era uma nova estradinha interna para uso dos familiares e conhecidos.

Mas tinha duas exceções: A primeira, entre o sítio de meu avô mineiro e o novo sítio do avô italiano, pois tinha dois outros sítios no intervalo, mas somente um tinha esse livre acesso. O outro era pasto para criação de gado, tal qual já existia em parte do sítio de meu avô mineiro.

A outra exceção era bem mais distante, justamente no primeiro sítio de meu avô italiano, pois fora comprado por uma família de japoneses, cujos costumes eram estranhos e diferentes. Para um mineiro, bastava tomar um cafezinho e já era amigo. Para um italiano, bastava comer e beber na mesma mesa e já era da família. Mas os japoneses eram fechados e arredios. Difícil de entender e conviver. A maioria sequer falava a nossa língua. Imagino que não compreendiam porque os vizinhos teimavam em querer passar por dentro da propriedade. Tanto assim que nossas famílias preferiam dar a volta pela estrada, o que aumentava o percurso em muitas vezes mais!...

Mas o fato é que a distância entre as casas de meus avós era de menos de quatrocentos metros e a metade era por dentro de um pasto, com eventuais bois e vacas. Um belo dia, eu criei coragem e resolvi me aventurar até onde havia diversão e alegria, ou seja, entre meus tios e a família italiana. Além do mais, minha mãe já estava lá em alguma missão secreta e levou apenas as filhas pequenas!... Fiquei aos cuidados da avó mineira.

E tive a aventura mais apavorante de minha vida até aquele momento!... Primeiro por andar descalço naquele estreito corredor, mas sobretudo, porque eram aterradoras as enormes moitas de capim colonião, em minha perspectiva, passavam de três metros de altura!...

E se eu desse de encontro com um touro bravo?... E se saísse um bicho do meio do capim?... De repente, levantou em minha frente uma imensa codorna com seu típico barulho ao bater as asas!... Quase tive um treco!... Foi nesse dia que jurei: Iria crescer e fazer um estilingue para matar todas essas aves!... Não precisei fazer isso. O “progresso” fez.

As pessoas julgam que somos todos iguais. Perante a Lei deve ser, mas na prática, no dia a dia, somos todos diferentes e isso torna a vida encantadora!... Levei muito tempo para entender que as pessoas enxergam em tons diferentes, escutam em vibrações distintas, os gostos não são os mesmos e até raciocinam diferente!... E entre gentilícios são inúmeras as divergências de gostos e cultura e eu convivi com isso desde pequeno. Sou uma mistura do calmo e arredio mineiro com o italiano amável e explosivo. Como dizem os italianos: Sou de veneta!...

Exatamente pelas diferenças culturais, não foi por acaso que meu avô mineiro escolheu comprar aquele sítio. É que no outro lado morava um conterrâneo de Minas, o qual construiu nos fundos de sua casa um engenho, tocado por cavalos a andarem em círculos e com isso moerem grandes quantidades de cana de açúcar. Com a garapa faziam rapaduras simples, ou com mamão ralado, com abóbora, amendoim e até doce de leite!...

E no sítio de meu avô ele fez uma grande roda, a qual era girada por um dos filhos, de forma a também girar as engrenagens de uma moenda de mandioca administrada por outro filho, cujo caldo virava o cobiçado polvilho e a polpa era despejada numa grande chapa comprida, previamente aquecida por baixo por muito fogo a lenha. Aquela substância era espalhada pela chapa, sacudida, remexida, cozinhada até surgir a útil farinha de mandioca, tão do agrado dos mineiros em pratos diversos.

Ao contrário do predomínio na plantação de café, desde o início, meu avô mineiro reservou a parte do sítio com acesso ao riacho para a criação de gado, conforme costume trazido de Minas Gerais. Até construiu uma mangueira, para o controle e manejo bovino. Leite sempre foi essencial na cultura mineira, principalmente na confecção de queijos.

Já no lado italiano, fora o consumo de vinho e massas, a preocupação era com a preservação de carne, pois refrigeradores só em filmes de ficção. Exatamente por isso, era comum a criação suína em grandes chiqueiros ao ar livre, pois além de carne, fornecia a banha, a qual era armazenada em grandes latas e dentro uma boa quantidade de pedaços de carne!... Quando aquecida, a banha ficava líquida e permitia colocar ou retirar os pedaços de carne. Após esfriar, endurecia qual gelo e protegia a carne. Era a geladeira da época!...

Apesar de também reservarem a parte com acesso ao riacho para a criação bovina, raramente faziam queijos. Por outro lado, plantavam muitas árvores frutíferas e hortaliças, além de diversificarem com o cultivo de milho, batata doce, abacaxi, quiabo, melancia, arroz e feijão, exatamente por isso, construíram uma tuia de armazenamento. E nada se perdia, pois quaisquer sobras eram destinadas aos porcos.

Um belo dia, minha avó Marcelina reuniu as três filhas casadas da região para derreterem a gordura de porco em enormes tachos. Era provável que cada filha depois levasse uma lata de banha e carne para os seus lares, no caso de minha mãe, o modesto ranchinho. De repente, minha avó gritou:

– Mama di Dio! – Tirou as mãos de frente à boca, exclamou: – Nizita! Corre aqui!... Não é o Zezinho ali?!...

Pois é!... Era eu a despontar na divisa, após cruzar o sítio vizinho, depois da aventura relatada. E após um severo sermão, fui conduzido para dentro de casa, com a expressa recomendação de não sair em hipótese alguma!... Ou nem pensar em chegar perto da varanda do poço d’água, antes da tuia!...

Eu até conseguia entender o motivo de permanecer preso. Mas depois de ficar injuriado por algum tempo, comecei a questionar a recomendação de não chegar perto da varanda. O que será que lá acontecia que eu não poderia ver?... Por outro lado, se eu simplesmente saísse pela porta da cozinha, todos veriam!... Então sai pela porta da frente, dei a volta pelo pomar de tangerinas, passei pelos fundos da horta de verduras, subi numa pilastra de sustentação atrás da varanda e cheguei até a coluna por baixo do telhado. Mas fui descoberto e uma das minhas tias falou:

– Nizita!... Olha o Zezinho ali em cima!...

Eu me assustei e cai ao lado de um dos tachos de gordura!... Infelizmente o braço esquerdo caiu dentro e fritou!... Foi uma dor insuportável!... Passei vários dias com o braço enfaixado com a Erva de Santa Maria. Mas graças ao poder rejuvenescedor das células infantis, com o tempo ficaram apenas poucos indícios do incidente no corpo.


Já na alma, as marcas foram profundas, pois além do escândalo da família italiana, com acusações de endiabrado e impossível, quando retornamos ao ranchinho, minha avó Jovelina estava muito aborrecida!... E antes de minha mãe falar qualquer coisa, ela apenas vaticinou:

– Você não bate nesse menino!... É por isso que ele faz essas artes!... Tem de bater nesse menino!... Tem de bater todos os dias, até ele aprender!...

Enfim, se a questão era aprender, até hoje, como diria o Filósofo Sócrates: “Só sei que nada sei”!...

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Do livro: MEMÓRIAS do Menino Esquecido.

ISBN: 978-65-00-38553-3

Registro Autoral CBL - DA-2022-017822.

© Sobrinho, José Nunes Pereira. – Todos os direitos reservados, proibida a reprodução parcial, total ou cópia sem permissão prévia do Autor ou Editora.

 

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11 - O CAFEZAL

11 - O CAFEZAL

“Ai menina, meu amor, branca flor do cafezal!... Passa-se a noite, vem o sol ardente e bruto, morre a flor e nasce o fruto no lugar de cada flor!... Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal!”. (Cascatinha e Inhana, música de Luiz Carlos Paraná).

O ciclo inicial do café exigia quatro anos. Primeiro preparavam o terreno, ou seja, desmatamento total. Depois faziam no solo buracos quadrados de meio metro de diâmetro, com distância de três metros entre as fileiras e um metro de buraco a buraco. Dentro era plantada a pequenina muda, vendida a preço de ouro por aproveitadores da oportunidade. Ainda erguiam ao redor paredes de proteção com galhos sobrepostos. E nos próximos três anos, capinavam os intervalos diuturnamente para eliminar toda erva daninha.

Não sei exato o motivo, mas deram o sugestivo nome de “covas” aos tais buracos!... E nada mais apropriado, pois não foram poucos os anos em que o frio sulino queimou toda a plantação em severas geadas, a sepultar os sonhos dos aventureiros, pois o “ouro preto” raramente brilhava. Ao menos não era preciso reiniciar o processo. Bastava cortar os galhos e esperar o tronco brotar vigorosamente para o próximo ano...

E era certo que em determinados anos o café floria num espetáculo maravilhoso qual véu de noiva a cobrir todo o sertão!... E o cheiro inconfundível das flores renovava a alma de cada vivente!... Logo surgiam os frutos verdes e depois totalmente vermelhos, prontos para a colheita, na certeza de mesa cheia quando chegasse o próximo Natal!...

Em 1956 meu pai voltou cheio de esperança e coragem da viagem e não sofreu quaisquer represálias em Minas. Meu avô examinou as duas cartucheiras. Uma era cano longo um pouco mais fino, coronha escura. A outra era cano menor, coronha adornada em vermelho. Ambas com dois canos. Meu avô sabia como recarregar os cartuchos, pois os materiais necessários, quais espoletas, pólvora e chumbo, eram facilmente vendidos em qualquer cidade da região. A meu pai coube ficar com a cartucheira vermelha, tanto para caçar, quanto para proteger o sítio.

Será que efetuaram a quitação das fazendas de outra forma?... No geral, falavam que meu avô vendeu, recebeu e gastou todo o dinheiro!... De fato, ele pouco ficava no sítio. Preferia andar a cavalo pela região entre um boteco e outro. Mas será que ele era pródigo ou preferia não ser pego de surpresa no próprio sítio?... E sem esquecer o novo mistério: Por que fez questão que o meu pai trouxesse de São Paulo as duas cartucheiras?...

Em 1966, após nosso retorno de Cambira, não foram poucas às vezes onde presenciei meu avô treinar a pontaria, sentado em frente à porta da casa grande. Ele atirava numa enorme árvore após a segunda porteira do sítio, uns cinquenta metros de distância!... E depois íamos lá conferir sua invariável pontaria com base no chumbo incrustado no tronco!... Ele falava alguma coisa quanto ao ajuste do tamanho do chumbo e da quantidade de pólvora e eu fingia entender. Trinta anos depois eu voltei ao sítio e lá ainda estava a árvore, agora quase seca, por testemunha das poucas vezes em que me lembro de alguma conversa com o meu avô!...

Em 1959 seria a primeira safra do cafezal!... Seria. De dia o sol quente castigava o café, ainda mais no solo arenoso, tanto que todos trabalhavam de chapéu de palha e camisas com mangas longas. Mas de noite o orvalho molhava as folhas e o cheiro de mato verde a tudo revigorava!...

O perigo era chegar uma frente fria sem chuva, geralmente em setembro, pois o vento frio da madrugada congelava o orvalho, para logo depois o calor do sol derreter e evaporar, no temível fenômeno conhecido por geada. Esse choque térmico era insuportável para as folhas do café, as quais logo secavam. Foi o que aconteceu em 1959. O trabalho de quatro anos, tudo perdido!...

Por isso, meu avô resolveu viajar para Cianorte-PR, para visitar os irmãos de minha avó Perpétua “Xavier”. Mas talvez tenha retornado a Minas Gerais para resolver a pendência no pagamento das fazendas. O fato é que ficou fora por vários meses. Antes de partir, recomendou ao meu pai podar todo o cafezal, para garantir brotar a próxima safra. Quanto aos tais “Xavier”, logo desistiram de Cianorte e foram para Mundo Novo MS, por fim, foram para Rondônia e não mais se teve notícias.

A estrada do “Barraco” dividia todos os sítios em duas metades. A parte de cima estendia-se por quase três quilômetros até o estradão, rodovia larga usada pelos caminhões de transporte de argila do rio Ivaí para a cerâmica em Sansabel, mas também limites de outros sitiantes. A parte de baixo estendia-se em menor tamanho até o riacho. Os sitiantes dividiram essa parte de baixo em outras duas metades, de forma que abaixo das casas, cerca de um quilômetro, deixaram para a criação de suínos, caprinos, equinos e bovinos. Portanto, o cafezal contava com no mínimo três quilômetros a partir das casas até o estradão.

Por estimativa presumo no mínimo dez mil pés em cada sítio!... Ainda bem que usavam somente fogão a lenha, pois haja fogo para consumir tantos troncos, após a poda. E meu pai juntou-se ao irmão violeiro e lançaram-se na exaustiva tarefa, pois o irmão mais novo ainda era criança. Em outras situações, era comum a ajuda entre vizinhos. Nem sempre o dinheiro importava, pois valia mais a amizade, a camaradagem ou o escambo. Mas naquele momento, todos estavam em igual situação!...

Após podarem oito mil pés entre as estradas, quando chegou à parte de baixo, meu pai chamou meu tio ainda adolescente e falou:

– Daqui para baixo vamos arrancar de vez e plantar capim...

– Ficou louco?... – Questionou o meu tio. – E quando nosso pai voltar?!...

– Ele vai ficar bravo... – Explicou o meu pai. – Mas talvez entenda que foi a melhor solução. Aqui não é lugar para plantar café!... Todo ano vem essa geada. Melhor é plantar capim e criar gado!...

– Mas temos pouco gado! – Observou o meu tio. – Além do mais, onde vamos arrumar o dinheiro para fazer a cerca?...

– Ainda não sei. – Confessou o meu pai. – Primeiro vamos arrancar esse café. Depois vou a cidade comprar sementes. Daqui um mês o capim terá nascido e então a gente vê o que fazer.

E assim foi feito!... Depois de um mês, quando ainda removiam parte dos galhos cortados, foram interrompidos por um japonês, morador da fazenda uns três quilômetros à frente, o qual era criador de gado e precisava urgente arrendar um novo pasto na região.

– Ah!... – Lamentou-se o meu pai. – O capim pouco cresceu e nem está cercado...

– Não tem problema! – Falou o Japonês. – Eu forneço o arame, vocês cercam e até lá o capim terá o tamanho ideal. No fim do ano eu pago pelo arrendamento, mas vou descontar o valor do arame!...

Combinaram o valor, mediante abertura de uma passagem de vinte metros quase ao lado das casas para o gado descer a baixada e beber água no riacho, mas isso implicaria no inverso, onde as poucas cabeças de gado de meu avô também poderiam usufruir do novo capim. Mas eram distintamente conhecidas e assim fecharam o negócio!...

Quando o meu avô voltou de viagem, desceu o carreador muito irritado por constatar que seus filhos cortaram o precioso café!... Além do mais, de quem eram aquelas cabeças de gado?... E onde arrumaram dinheiro para cercar?...

Foi um confronto terrível!... Meu pai tentou argumentar, mas meu avô estava possesso de raiva e indignação. Onde já se viu?... Como puderam cortar os pés de café?... Se fosse para criar gado teriam ficado lá em Minas!... E essa situação deixou o meu pai bem aborrecido, pois tinha certeza de que fizera o certo!...

Quase quarenta anos depois, quando lá voltei, era tudo somente fazendas de gado!... O cheiro das flores do café ficou na saudade de quem viveu esse momento mágico.

Após algum tempo, finalmente o japonês pagou pelo arrendamento, até deu uma vaca prenha de presente ao meu pai, pois ele cuidara muito bem do rebanho!... Meu avô recebeu uma boa quantia em dinheiro e também ficou satisfeito!... Depois comprou outras rezes e logo estava com um bom rebanho a fornecer carne e leite. Por fim, arrependeu-se da implicância e falou:

– “Girso”, arrancar aquele café foi a melhor coisa que você fez!...

E tudo isso foi fundamental, pois quando meu pai decidiu casar, meu avô se prontificou a liberar a casa onde nasci, afinal, sua presença e trabalho mostrara-se importante para a família!...

Quanto aos mistérios, ou o meu avô desistiu de receber, ou ele fez outra negociação, pois depois disso, vez ou outra, chegava algum parente de Minas. Inclusive, após casar, meu pai vendeu a sanfona para um primo de Espinosa!...

Como diria Shakespeare: “Tudo bem, quando tudo termina bem”!

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Do livro: MEMÓRIAS do Menino Esquecido.

ISBN: 978-65-00-38553-3

Registro Autoral CBL - DA-2022-017822.

© Sobrinho, José Nunes Pereira. – Todos os direitos reservados, proibida a reprodução parcial, total ou cópia sem permissão prévia do Autor ou Editora.

 

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