sábado, 2 de março de 2013

CAMINHOS DA CORRUPÇÃO

     Meu nome é Nephel.
     Obtive consciência de que existia há uns quarenta mil anos no planeta ECHINATA onde vivi até a lei de banimento dos corruptos, tiranos, desajustados, bandidos e religiosos hipócritas. Enquadrei-me neste último item.
     No período anterior ao banimento, meu planeta de origem, era muito semelhante à TERRA. Até lembro-me de um caso que me deixa muito a vontade por aqui...
     Na região de COCÁLIA, comunidade de CREMATUM, um jovem estudante do quinto ciclo precisou de ajuda no teste de Química Estrutural e foi auxiliado por um colega pelo modesto estímulo de Dez Créditos.   Um crédito era suficiente para comprar um lanche.   Por não ter tal quantia, foi solicitá-la à Genitora ­- todavia, considerando que no dia seguinte ocorreria a prova de Física Nuclear e, portanto, um novo suborno, sem falar nos gastos extras para conseguir participar das competições, tão apreciadas pelas jovens crematuenses - ele pediu Cem Créditos.
     A mãe, por sua vez, por não dispor da quantia no momento, resolveu solicitá-la ao esposo, o Governador Geral da comunidade; entretanto, também se lembrou que precisava comprar um novo vestido para o baile anual da bissolação, época em que o planeta passava a receber iluminação de ambos os sóis e por isso, requereu Dois Mil Créditos.
     O marido fez o cheque, mas recordou-se que a conta estava com excesso de limite na Casal Oficial de Depósitos e assim, convocou o Secretário Geral para providenciar um desfalque oportuno; porém foi informado que todos os meios possíveis já estavam em andamento. Face ao impasse, decidiram incorporar a Câmara Comunitária na solução do problema e já que os Eletivos da Câmara sentiam-se ofendidos diante da insignificância do último estímulo para aprovar um projeto, agora precisariam recompensá-los regiamente.
     Assim, fez-se um projeto de construção de uma ponte sobre o rio Caxará. Claro que o tal rio nem existia, mas quem iria conferir?... Todos estavam preocupados de mais com os próprios problemas para algo questionar.
     O projeto foi aprovado pela quantia de Quinhentos Mil Créditos. Acho desnecessário explicar que o substancial aumento ocorreu face às participações, inclusive, do Secretário.
     No fim, uma vez que a arrecadação da comunidade de Crematum não era suficiente, mandaram o projeto para o Câmara Governamental de Cocália, sendo aprovado pela cifra de Cinco Milhões de Créditos.
     Nesta seqüência, pelo mesmo motivo, o projeto foi repassado ao âmbito Federal de Echinata.
     Vejam a que ponto chegou aquele pequeno ato de corrupção na escola.  Quanto a quantia que o projeto recebeu na Câmara Federal eu não tenho conhecimento, pois nesta época o Conselho Intergalaxial interveio no planeta e fomos banidos para a TERRA.
     Nossa vinda revolucionou os costumes e impetrou ao planeta Terra um virtuoso avanço quanto ao aproveitamento dos recursos naturais. Dentre nós, alguns recobraram a sobriedade e há muito deixaram este planeta. Outros, entretanto, cegos de ódio, não aproveitaram à lição do exílio e alimentaram o desejo de vingança contra os Administradores da Galáxia, buscando estabelecer um domínio paralelo aqui na Terra, animados pelo fanatismo propagado pelas religiões da época. Com o tempo, seus vícios morais venceram a inocência e pureza primitiva dos legítimos habitantes e por fim, chegamos ao atual século, onde o planeta encontra-se em fase de transição...
     Os referidos, conhecidos por filhos das trevas, farão a última tentativa de dominar este planeta. Por algum tempo julgarão ter conseguido, mas a luz do Governador da Galáxia será manifesta e reinará.
     Haverá um novo exílio. As pessoas de índole má, pela própria negatividade, serão atraídas pela órbita gravitacional de um corpo celeste que se aproxima da Terra e sendo ele etéreo, não provocará impacto físico, mas levará para longe os maus...
   Novamente!...


   José Nunes Sobrinho
   Naviraí - MS
   Diário do Interior - 17/02/1988

SONETO - A VISÃO

Talvez à outra dimensão
Quem dera de ti, fugir!...
Porém, como assim agir?
Ah! Pobre de um coração...

Minha alma prestes a ruir
Perene em minha visão
Calada por emoção
Humilde pôs-se a te ouvir...

O Teu olhar em locução
Previu dores no porvir
Exortando em não falir...

Acompanhei a orientação
E extático, sem noção,
Vi a tela no céu sumir...



José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
Diário do Interior - 27/06/1985

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL

     Esta semana, escutei um senhor de pele negra desabafar que o dia 13 de maio de 1888 não foi a data da libertação dos escravos negros no Brasil.  Creio que ele tinha fortes motivos para tal afirmação; entretanto, mesmo dentro de minha pele branca, sou obrigado a discordar.
     A liberdade plena não chegou na referida data, mas o dia 13 de maio foi o início.  Afinal, quem é realmente livre?...  Todos somos ainda escravos de nossos vícios, das conseqüências oriundas de nossas atitudes, de necessidades e ambições que nos obrigam a suportar as imposições das circunstâncias e até de Leis retrógradas.
     Brancos, negros, vermelhos, amarelos e até seres de outros matizes, se existirem, todos somos escravos das necessidades e dos efeitos do próprio passado. Sequer conhecemos o que seja liberdade integral e mesmo a morte, conforme sabemos, não fornece a liberdade, pois a vida continua e com ela, toda a carga de responsabilidade.
     Entretanto, seria utopia negar o racismo disfarçado que ainda impera. Os Senhores de hoje dão a liberdade de ir e vir, mas anulam os meios, ocupam os espaços, impossibilitando as condições e oportunidades para que a igualdade fique claramente demonstrada em todos os segmentos da sociedade.
     Os dominadores do pretérito alimentavam os escravos negros; os de hoje, livraram-se deste incômodo e simplesmente repassam-lhes os recursos para comprarem a própria alimentação de subsistência; acontece que incluíram quase toda a massa humana neste ardil, independente de cor da pele.
     Entendo que o dia 13 de Maio de 1888 foi a data da libertação física daquelas pessoas livres em sua terra natal, onde eram donos da própria vida e que após serem capturados por caçadores avaros, foram trazidos para o Brasil em porões imundos, agrupados e empilhados quais objetos, passando necessidades, para serem vendidos, feitos mercadorias.
     Quantas mães, pobres mães, viram seus filhos e filhas seguirem rumos desconhecidos ou mesmo perderem a vida por motivos banais?...
     Quantos casais foram separados sem qualquer compaixão?... Laços de amor eterno, simplesmente ignorados por uma mera questão de cor da pele.   Jovens desacatadas, quais objetos de prazer. Sem falar nos heróis da resistência que derramaram o sangue, muitas vezes, não por orgulho, sim por amor à liberdade. Quantos e quantas não entregaram a vida para que viesse esta liberdade, por menor que fosse?...
     Dizer que o dia 13 não foi a data da libertação é simplesmente menosprezar todo o sacrifício e sangue dos pais da raça negra no Brasil.
     Em verdade, independente de cor da pele, nós somos ainda imaturos no domínio mental e emocional e quem não sabe andar por si mesmo não pode ser livre integralmente. Temos o livre arbítrio, mas não sabemos usá-lo. Nossas escolhas são viciosas. Nossos passos seguem formando um círculo que não leva a nenhum lugar. Se pouco nós podemos, é porque duvidamos. Em tudo colocamos limites. Somos os nossos próprios carcereiros.
     Muitos anos de escravidão serão necessários para que a humanidade aprenda a ser livre. Resta o consolo de saber que as ações podem sofrer controle, mas jamais as ideias, os sonhos e a esperança.

José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
Diário do Interior - 14/05/1988

CAMINHOS DA EXISTÊNCIA

     A existência humana pode revestir-se de trágicos acontecimentos, crimes hediondos, dramas passionais, intrigas, traições, paixões, renúncias, amores e os extremos entre as virtudes e as imperfeições.
     Por outro lado, na longa noite do tempo, buscando a aurora sublime da perfeição, todos estes fatores ficam perdidos nas cinzas do passado, pois cada peregrino da existência leva consigo apenas os valores intelectuais e morais; ou seja, a dilatação dos horizontes mentais e o amadurecimento emocional, face à insignificância pessoal perante o universo.
     Tudo o que acontece na vida serve apenas para mexer com a mente ou com os sentimentos. Tudo passa. Família, amigos, filhos, riqueza, títulos, a vitalidade, desespero ou frieza, risos ou lágrimas. Tudo passa. Diante de cada circunstância de vida, quem aprende alguma coisa, quem desenvolve algum sentimento positivo, este sim aproveita a vida. Tudo na vida serve apenas para proporcionar-nos a oportunidade de evoluir nestes dois referidos valores. E ao pensar em tudo o que acontece, notamos o quanto nós somos tardios em assimilar as lições da vida. Ao invés de aprender pelo amor, sofremos nos caminhos da dor.
     Cada pessoa, antes de nascer, escolhe qual a modalidade de vida será melhor para lhe proporcionar as condições de evolução. Todos pedem para nascer, mesmo que seja inconscientemente. Ninguém recebe filhos aleatoriamente, sem antes ter aceitado a maternidade ou a paternidade, mesmo quando o compromisso limita-se apenas à gestação. É como se cada estilo de vida fosse o remédio apropriado para a doença daquela pessoa. Por isso, existem opções de vida para todas as necessidades. 
     Algumas apresentam um exterior mirabolante, repletas de acontecimentos e fatalidades físicas. Entretanto, outras são guiadas pela introspecção, por sentimentos e reflexões ocultas, impressões individuais que modificam a sucessão dos fatos e determinam o crescimento da consciência. São estes os gritos do silêncio a ensurdecer a razão da lógica humana e a estabelecer o ponto de equilíbrio entre a sanidade e a sabedoria, independente da situação ou imagem exterior. Afinal, a verdadeira guerra na conquista da perfeição é travada no íntimo de cada ser, num universo incomensurável chamado inconsciente. As fatalidades físicas são apenas o mais longo dos caminhos.
     Para que o ser humano seja jogado neste universo íntimo não são precisos acontecimentos ou fatos dramáticos. Pelo contrário, geralmente, basta um gesto impensado, uma palavra inoportuna, uma ação aparentemente insignificante, tal qual uma gota de água no copo transbordante e eis o protagonista mergulhado no mar da vida, indiferente às pessoas ao seu redor; pois nem todos têm a mesma habilidade nesta luta, onde o perdedor e o vitorioso se confundem, uma vez que as angústias bem assimiladas por uns, podem ser insuportáveis para outros. Ninguém pode andar pelo seu próximo. Ninguém consegue sequer transferir uma experiência de vida, pois a falta de parâmetros mentais apropriados obriga o ser humano a concretamente entender uma verdade depois de vivê-la ou sofrê-la.
     Tal qual uma cicatriz cravada na carne, mostrando que um dia aquele corpo sofreu um ferimento, cada circunstância de vida também deixa uma marca no nosso inconsciente. O universo nos devolve em reações todas as energias emocionais e mentais que emitimos. Na vida tudo é energia.
     No fim, constatamos que o homem corre muito por nada; luta sem objetivo definido, julga ter a posse de valores ilusórios e em consequência disto, emite sentimentos sem qualquer importância. Quando a humanidade compreender estes fatos, haverá tolerância, compreensão, respeito, humildade, perdão, solidariedade, amor e paz.
     Finalmente...


José Nunes Sobrinho
Itaquiraí - MS
Diário do Interior - 17/02/1994

OPORTUNIDADES

     Thomaz Édison teve uma idéia. Uma teoria. Fazer uma lâmpada incandescente para uso interno. Após a teoria, passou à prática. Mediante muita perseverança e transpiração conseguiu a lâmpada elétrica tal qual a conhecemos.
     Santos Dumont também alimentou uma teoria. Construir uma máquina dirigível que voasse. Depois de treze tentativas, obteve êxito com o famoso 14 bis.
     O mesmo aconteceu com H. Ford e o primeiro carro vendido comercialmente.
     Mas e se Édison, Dumont e Ford não tivessem perseverado, acreditado, insistido?  Será que não teríamos a lâmpada, o avião e o automóvel?...
     Pois afirmo com certeza que estes benefícios existiriam.
     A vida é feita de oportunidades positivas. Ou seja, circunstâncias - dentro da legalidade, da ética, do respeito aos direitos alheios - que possam produzir benefícios pessoais ou coletivos. Afinal, se um não faz, vem outro e realiza.
     O primeiro homem a conseguir locomover-se com um veículo motorizado foi o alemão Benz, em 1885, num carro de um cilindro e três rodas. Mas quem de fato tornou a teoria prática e popular, foi H. Ford ao aproveitar a oportunidade ao ponto de vender quinze milhões de veículos no início do século.
     Toda teoria é no princípio apenas um conceito, uma idéia, algo hipotético. Mas quando colocada em prática pode vir a transformar-se em realidade.
     Para uns, todos os dias são iguais. Para outros, cada dia é uma nova oportunidade de fazer acontecer, de refazer, de tentar, prosseguir e vencer.
     Os primeiros vivem numa eterna rotina e nunca se preocupam em promover mudanças, em evoluir. Não questionam. Rotineiramente enfrentam os mesmos problemas sem tentar solucioná-los. São parecidos às certas equipes de futebol que sempre empatam a competição, não perdem, mas jamais ganham um campeonato.
     Em suma, as teorias são importantes. Os resultados de hoje representam a comprovação das teorias de ontem. As teorias de hoje representam a realidade do amanhã.
     As oportunidades surgem. Entretanto, não tal qual um milagre. É preciso percebê-las. Descobri-las. Lapidá-las. Geralmente, são apenas teorias. Aproveitá-las depende de nós!

José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS
Diário do Interior - 25/04/1994

JOSÉ NUNES SOBRINHO

     Durante mais de uma década escrevi para o Jornal Diário do Interior, de Naviraí MS.
     Tudo começou após ganhar um concurso de crônicas sobre o meio ambiente, em 1984. De repente, dei-me conta de que sabia escrever poesias e crônicas! Ao menos era o que eu achava. Acreditei piamente que bastaria ter ideias e colocá-las no papel. Mesmo sem a adequada capacitação, aventurei-me pelo mundo mágico da arte de escrever e produzi inúmeros artigos, todos com a marca pessoal dos erros de regência e até concordância. Mas as pessoas gostavam. Por fim, as poesias viraram livros, em 1985, 1987 e 1992. Quanto aos artigos, viraram um livro em 1995.
     Somente em 1997 conclui um Curso Superior. Uma professora leu os meus livros e riu de meus erros...
     Fui pesquisar nos antigos livros escolares e abismado constatei que os ensinamentos não aprendidos ali estavam! Sempre nas páginas finais dos livros, de tal forma que terminavam os anos letivos e nunca eram ensinados! Regras de regência verbal e nominal, uso da voz passiva...
     Fiquei com tanta vergonha que parei de escrever.
     Mas agora, com erros ou sem erros, resolvi editar esse Blog.
     É por isso que sou grato por sua visita e leitura.

     José Nunes Sobrinho
     Campo Grande - MS.
     02/03/2013