sexta-feira, 5 de abril de 2013

FINAL



     Existem verdades amargas, das quais, preferimos fugir. Geralmente são aquelas que nos despertam sentimentos de vergonha. Por exemplo, o que fizemos em nome de Deus?...
     É evidente que existe um Criador do universo. Mas será que Ele poderia ser rebaixado ao ponto de ser equivalente a um soberano da terra?...
     Quem dera se a humanidade tivesse entendido o que significa não usar o nome de Deus em vão...
     Tudo foi feito, até o Governador da Galáxia aceitou submeter-se a nascer neste planeta para tentar corrigir alguma coisa, mas foi sacrificado na cruz...
     Muitos missionários tentaram, mas logo seus ensinamentos foram deturpados e a palavra voltava a ser comercializada, com o nome de Deus sendo usado para abençoar guerras...
     Chegou-se ao ponto crítico em que vivemos, onde há tantas doutrinas, seitas, religiões, filosofias, ciências, tudo supostamente em nome de Deus.
     Em breve o Anticristo iniciará seu caminho negro sobre a Terra. Ele analisará o culto a Deus em todos os sentidos e será racional ao ponto de ignorar as questões morais e espirituais, atendo-se unicamente aos critérios físicos e isso o levará a concluir equivocadamente que o culto a Deus produziu mais miséria do que poderia a apostasia absoluta.
     A princípio parecerá que o céu perdeu o poder, pois ele, a tudo vencerá. Nada poderá detê-lo. Ele estenderá o seu domínio sobre todos os povos da Terra.
     Em verdade, ele será, sem o saber, apenas um instrumento de Deus para anular todos os cultos inúteis, a fim de que o relacionamento com Deus esteja somente no coração dos verdadeiramente fiéis, sem qualquer rito, sem qualquer culto, explorações, fanatismo, engano, sem os conceitos inúteis. Quem tiver fé verdadeira perseverará até o fim. Os demais negarão com clamor que foram religiosos.
     Quando a fé estiver depurada ao ponto dos falsos religiosos estarem convictos de que nada poderá anular a nova realidade negra e passarem a adotar seus princípios, perseguindo os filhos da luz que permanecerem fiéis, sendo muitos mortos na carne, outros presos, então virá uma transformação e os maus serão deportados do planeta Terra.
     Nascerá a humanidade do terceiro milênio e haverá uma paz como jamais se imaginou ser possível.
     Mas até que isto ocorra...
     Ai de nós!...


José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS
28/02/1995

JESUS, O POETA



Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos... (Mateus, 5-6).
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Ele faz nascer o sol sobre maus e bons; e vir a chuva sobre justos e injustos... (Mateus, 5-45).
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São os olhos a luz do corpo. Se os teus olhos forem bons, Todo o teu corpo será luminoso... (Mateus, 6-22).
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Olhai para os lírios do campo, como eles crescem...
Não trabalham e nem fiam e nem mesmo Salomão
em toda sua glória, se vestiu como qualquer deles... (Mateus, 6-28).
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As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos,
mas o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça... (Mateus, 8-20).
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Que foste ver no deserto?
Uma cana agitada pelo vento?... (Mateus, 11-7).
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Quantas vezes eu quis ajuntar os teus filhos como a galinha junta os filhotes debaixo de suas asas,
mas tu não quiseste... (Mateus, 23-37).
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Por se multiplicar a iniqüidade o amor de muitos esfriará... (Mateus, 24-12).
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Meu pai, se este cálice não pode passar de mim sem que eu o beba, faça-se a tua vontade... (Mateus, 26-42).
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 E teve compaixão deles porque eram como ovelhas
que não têm pastor... (Marcos, 6-34).
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Este povo honra-me com os lábios mas o seu coração está longe de mim... (Marcos, 7-6).
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Tenho compaixão desta gente porque há três dias estão comigo e não têm o que comer... (Marcos, 8-2).
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Tendes ainda o coração endurecido? Tendo olhos, não vedes? Tendo ouvidos, não ouvis?... (Marcos, 8-17).
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Não necessitam de médicos os que estão são, mas sim os que estão doentes... Não vim chamar justos, e sim, pecadores ao arrependimento (Lucas, 5-31).
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Se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis?
Não fazem os pecadores o mesmo?... (Lucas, 6-32).
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Os seus muitos pecados lhe são perdoados porque muito amou, mas aquele que pouco é perdoado,
pouco ama... (Lucas, 7-47).
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Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos. (Lucas, 9-60).
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Não temais os que matam o corpo e depois disso,
nada mais podem fazer... (Lucas, 12-4).
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Onde estiver o vosso tesouro ali estará também o vosso coração... (Lucas, 12-34).
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Vim lançar fogo sobre a terra...
E bem quisera que já estivesse a arder... (Lucas, 12-49).
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Os filhos deste mundo são mais hábeis na sua geração
do que os filhos da luz... (Lucas, 16-8).
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Digo-vos, se eles se calarem
as próprias pedras clamarão... (Lucas, 19-40).
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O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim é todo o que é nascido do espírito... (João, 3-8).
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Qualquer que beber desta água tornará a ter sede.
Mas aquele que beber da água que eu lhe der, nunca terá sede e se fará uma fonte que salte para a vida eterna... (João, 4-14).
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Não dizeis que ainda há quatro meses para a ceifa?
Eis que vos digo: Levantai os vossos olhos e vedes os campos que já estão brancos para a ceifa...  (João, 4-35).
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Se o grão de trigo caindo na terra não morrer
fica ele só... Mas se morrer
produz muito fruto... (João, 12-24).
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Ninguém tem maior amor do que este,
 de dar a sua vida  pelos seus amigos... (João, 15-13).
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A mulher, quando está para dar a luz, sente tristeza
porque sua hora é chegada... Mas depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição... (João, 16-21).
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Não rogo somente por estes, mas também
por aqueles que vierem a crer em mim,
por intermédio da palavra... (João, 17-20).
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Poéticas de JESUS.

HONESTIDADE



     Resolvj escrever um artjgo sobre a honestjdade. Entretanto, mjnha máqujna soltou um dos tjpos... Mas não me dej por vencjdo e decjdj substjtujr a letra que faltava pelo "J".
     A prncjpjo julguej que a mudança não causarja majores danos, afjnal, tratava-se de apenas uma letrjnha em mejo a tantas outras perfejtamente normajs. Contudo, após jnjcjar o artjgo, percebj meu trágjco equjvoco...
     É jncrjvel mas apenas uma letrjnha djsvjrtuou todo o panorama vjsual e até jnterpretatjvo do texto!
     Jsso me faz refletjr nas crjses socjais, governamentajs e poljtjcas.
     Vemos tanta polêmjca, djscussões, opjnjões djversas e mudanças generaljzadas. Tudo para solucjonar a conturbada sjtuação, que dja após dja, sacrjfjca cruelmente a socjedade, sem que esta sequer tenha conscjêncja da próprja penúrja, pojs vjve perdjda em seus jnteresses partjculares, julgando que os problemas da nação devam ser resolvjdos apenas pelos poljtjcos.
      Entendo que o povo não pode fazer o mjlagre da transformação naqueles que detém o poder e que são essencjalmente corruptos.
      Mas cada pessoa que dejxa de segujr este funesto exemplo de alguns poljtjcos, mesmo nas pequenas cojsas do dja a dja, passando a agjr com lealdade e justjça, jndependente do comportamento defjcjtárjo do seu companhejro do lado, está contrjbujndo para melhorar os padrões étjcos da socjedade e por consequêncja, estabelecendo a ordem e o progresso.
     Parece sjmples demajs! Mas vejam este artjgo. Apenas uma letrjnha prejudjcou a harmonja vjsual e até o entendjmento do texto. Assjm também, cada pessoa que passa a agjr com honestjdade, contrjbuj para a melhora geral.
     Pensem njsto! A partjcjpação de cada pessoa é fundamental para o futuro da nação. Sejamos honestos, justos, posjtjvos acjma de todas as cjrcunstâncjas e seremos, jndjvjdualmente, uma letrjnha a menos a descolorjr o escuro panorama nacjonal, contrjbujndo assjm para uma socjedade melhor.


José Nunes Sobrynho
Navyraý - MS
Dyáryo do Ynteryor - 13/07/1988

CAMINHOS DO MEDO



     Na juventude, na vigília da noite, no mundo dos sonhos, em espírito, aprendi a voar. Escrevendo assim, parece simples. Entretanto, requereu muita perseverança e alto controle. O maior empecilho foi o medo. Em verdade, no mundo espiritual para onde vamos quando dormimos, vale a força da mente. Acontece exatamente aquilo que imaginamos. 
     Volitar requer muita disciplina. No início, tive pavor de ficar nas áreas urbanas por causa da fiação elétrica. Por mais que tentasse flutuar sobre as cidades, os receios apareciam e o medo de chocar-se contra os fios automaticamente impelia justamente na direção temida. Logicamente, acordar sempre era a única salvação, apesar de horrível retornar ao corpo tão bruscamente.
     A autoconfiança foi fundamental para obter êxito. Esta experiência serviu para ensinar a controlar os impulsos do medo e a não temer inimigos ocultos. Ou seja, àqueles fantasmas que tentam provocar pesadelos e aflições durante o sono físico. Nestes casos, basta acreditar que tudo terminará bem, que tudo está sob controle e procurar sempre fazer uma prece. É infalível. No mundo dos espíritos as orações têm um poder fenomenal.
     Recentemente, sonhei que estava pegando serpentes marinhas. O Instrutor foi claro: Não poderia soltá-las de forma alguma, pois eram muito venenosas.
     Nas primeiras, não tive medo e tudo ocorreu bem. Entretanto, na última, a serpente parecia extremamente lisa. O meu medo fez com que ela realmente ficasse escorregadia ao ponto de não conseguir segurá-la mesmo com ambas as mãos. Ela escapou e tive receio que não fosse embora. De fato, conforme temi, ela não foi! Depois pensei: "Só falta ela morder". A serpente virou-se para mim, como se estivesse impedida de ir embora e tentou de fato picar minhas mãos, não por agressividade, mas porque o meu pensamento a prendia. Rapidamente pensei: "Sou mais rápido. No máximo ela vai conseguir apenas mordiscar". E assim ocorreu. De repente, um descontrole terrível me dominou e não tive outra saída senão acordar. Estava com as mãos doloridas e Precisei esfregá-las para que sumisse as sensações.
     No mundo dos sonhos é assim. Acontece exatamente aquilo que imaginamos. Se deixarmos o medo dominar nossa mente, então ele determinará os acontecimentos. É assim que os espíritos malignos perseguem as pessoas. Apenas exploram o medo, a superstição, as crendices.
     Por outro lado, sabemos que o mundo real é a plasmação daquilo que é primeiramente idealizado na mente. A partir deste raciocínio é fácil compreender que tudo o que ocorre em vida pode ser melhorado ou agravado, dependendo de nossa maneira de pensar. Se enfrentarmos a vida com coragem, fé, otimismo, confiança e determinação, as probabilidades de vencermos serão enormes. Mas se alimentarmos receios, medos, temores, pavores, dúvidas, desconfianças e outras vibrações negativas, logicamente estaremos plasmando mentalmente uma próxima realidade de fracasso.
     Claro que nem tudo depende da nossa mente. Mesmo porque vivemos numa sociedade e assim, estamos sujeitos a sofrer consequências das emanações mentais da coletividade. Porém, no mínimo, podemos e devemos disciplinar nossos pensamentos e medos para obter a coragem e determinação suficiente para o máximo de êxito possível em todos os empreendimentos.
     Não ter medo de nada, é uma forma de coragem. Entretanto, é oportuno lembrar que coragem não é lançar-se intempestivamente contra tudo e todos. Quanto mais medo, maior a necessidade de combater. A ausência real do medo fornece calma, passividade, presença de espírito, consciência tranquila.
     Por maior que sejam as crises ou obstáculos a superar, acreditemos. O medo é o pior inimigo.
     Se crermos em Deus e tiver consciência da vida após a morte física, quem poderá nos vencer?...


José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS 
Diário do Interior - 26/02/1995

MUDANÇAS E CONCEITOS



     O metabolismo humano proporciona sentidos múltiplos que geram reflexos conscientes ou autônomos.
      Fora dos padrões tradicionais da ciência, podemos classificar estes sentidos como sendo qualidades conceituais, para onde destinamos as atribuições intelectuais e morais, tais como a inteligência, a intuição, a sensibilidade artística ou emotiva, etc. Em seguida, as qualidades práticas, para onde canalizamos as atribuições orgânicas, tais como a capacidade de sentir estímulos através do tato, de digerir um alimento, etc.
     Um exemplo de qualidade conceitual é a capacidade de assimilação. Alguém expõe uma teoria e uns entendem de imediato e outros não se atinam com o sentido. Outra é a criatividade.
     Um exemplo de qualidade prática é a capacidade de regeneração. Se quebrarmos um objeto ele não se reconstituirá por si mesmo, mas se acontecer um ferimento num membro do corpo humano, o próprio organismo promoverá a recuperação. Outra é a capacidade de adaptação. É justamente esta qualidade que nos interessa.
     Sabemos que no Nordeste faz calor e no Rio Grande do Sul faz frio. Se um nordestino, por sua vontade, quiser morar no sul, com o tempo, certamente se adaptará ao clima e costumes da região. Isto é a praticidade da adaptação. Todavia, nos conceitos, ao alimentar-se com churrasco, lembrar-se-á das iguarias típicas do nordeste. Escutará a música gauchesca e certamente preferirá as músicas regionais de sua terra. Adaptou-se, mas não mudou os conceitos.
     É exatamente esta a questão. O ser humano muda apenas em aparência, mas os costumes, as tradições, os conceitos permanecem os mesmos e somente com muitas dores são mudados.
     Através da história, percebemos que o gênero humano errou muito mais por não se atualizar em seus conceitos do que propriamente por falta de oportunidades e circunstâncias de progresso.
     Foi assim que Moisés estabeleceu princípios civis oportunos diante das circunstâncias e quando Jesus veio melhorá-los, séculos depois, sofreu todo o peso do enraizamento restrito da letra por não compreenderem o sentido expansivo da palavra.
     Igualmente com Copérnico ao explicar que a Terra não é o centro do universo ou Galileu ao afirmar que ela gira.
     É como diz o provérbio atribuído a Einstein: É mais fácil desintegrar um átomo do que mudar um preconceito.
     Em nome das tradições, quantos crimes não foram cometidos?... Basta lembrar da exterminação que Moisés determinou contra os povos nativos das terras de Canaã; os cristãos nas arenas romanas; os turcos, os católicos e as cruzadas; os dias negros da inquisição; a noite de São Bartolomeu e mais recentemente - provando que apesar de todo o avanço científico, filosófico e tecnológico não houve mudança de conceitos - os campos de extermínio na Alemanha.
     "Um navio francês entrava um navio inglês no porto de Santos". Qual o sentido desta frase?...
     Muitas vezes, apegamo-nos a uma maneira equivocada de raciocinar e estabelecemos conceitos rígidos, sem atinar que a lógica da verdade não segue um padrão comum. Determinamos horizontes mentais restritos como se tivéssemos medo de mudar, de ver o que há além, de usar toda a capacidade da máquina orgânica. Julgamos que nossos conceitos, nossas verdades, formam nossa maior riqueza. Talvez seja. Mas qual a importância desta riqueza quando provoca escravidão? Toda riqueza represada, guardada, de nada serve. Temos medo do vazio que poderia ficar se anulássemos todos os conceitos inúteis que infestam nosso consciente e inconsciente. Mudar seria admitir o tempo perdido, que envelhecemos acumulando fatores que nada significam. Por isso, quanto mais idade tem uma pessoa, mais difícil de mudar os seus conceitos, por mais absurdos e errados que sejam.
     Voltando à frase, a palavra "entrava" refere-se ao verbo "entravar" e não ao verbo "entrar". Ou seja, um navio francês bloqueava um navio inglês, impedindo-o de entrar no porto.
     Em outro exemplo, antes da informática, nos estabelecimentos bancários, todos os chefes eram pessoas com mais de trinta anos. Hoje a idade varia entre vinte aos vinte e cinco anos. Por outro lado, naquela época tudo era feito manualmente. Hoje o computador trabalha. Será que os antigos não tinham capacidade para lidar com o computador?... Será que os jovens atuais são melhores do que os antigos?...  Pois afirmo com certeza que os antigos além de mais capacitados ainda tinham a experiência. Entretanto, também traziam os conceitos dos sistemas antigos, das formas ultrapassadas. As mudanças vieram e eles tentaram adaptar-se quanto à prática, mas na mente guardaram uma infinidade de regras e procedimentos obsoletos. Houve a resistência. Os jovens vieram, com a mente aberta, acreditaram nas mudanças e ocuparam os lugares dos clássicos senhores de conceitos rígidos.
     Isto acontece em todos os sentidos da vida. Em todos os lugares. É preciso aprender a mudar. Questionar as razões e importância dos conceitos que herdamos dos pais, dos professores, da sociedade, das religiões, dos instrutores, dos líderes, etc.
     Tudo que restringe e impede o ser humano de crescer mentalmente, de aprender e evoluir, de mudar, são conceitos desnecessários e devem ser esquecidos.
     Quem teme as mudanças mostra por si mesmo que não tem convicção daquilo que acredita como certo. Por outro lado, quem conhece a verdade não precisa recear novos ensinamentos, pois a verdade é um círculo em espiral perfeito e em nada pode se contradizer; entretanto, sempre surgem novas camadas na sequência e se a lógica e a razão diz que faz sentido, por que duvidar? 


José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS
Diário do Interior - 10/01/1995

MEIO AMBIENTE



     Hoje de manhã, através da imaginação, caminhei pelos verdes e floridos campos, onde a natureza pinta em traços simples e nítidos, todo o magistral encanto da vida.
     Pequeninos pássaros saudavam a luz do sol com cantos melodiosos de gratidão, paz e amor.
     Meio sonolento, percorri os campos, onde os animais ariscamente fugiam assustados como se estivessem diante de um representante da pior espécie entre os predadores.
     Feito último desperto em toda a criação de Deus, abri os olhos e surpreso constatei que o trabalho há muito começara para algumas diminutas formigas, que desde o crepúsculo, carregavam uma enorme folha, infinitamente maior do que elas!
     Descalço, a cada passo, os dardos afiados das areias, desconhecidos ao meu tato, feriam-me bravamente os pés como se defendessem a pátria amada. Em bramos perceptíveis apenas no reino animal, elas diziam:
  – O que queres em nosso meio, Oh Bicho Homem?...
  – Vai-te daqui!...
     Envergonhado pela própria hereditariedade humana, deixei o orgulho e a vaidade, e indigno que era de permanecer marcando aquela terra imaculada, passei a caminhar pelo leito de um riacho, nas proximidades.
     Mesmo ali, as águas cristalinas, límpidas como deveriam ser nossas almas, em ondulações meigas e educadas, pareciam gentilmente dizer:
  – Moço!... O senhor está barrando nossa passagem. Queira retirar-se do nosso meio, por favor!...
     Altivo e estúpido tentei ignorar aquele pedido tão gentil, por abuso da qualidade de suposto rei da criação, mas fui forçado pelos raios do sol a baixar a altivez do olhar e contemplá-las.
     E nelas, vi os pequeninos peixes que fugiam desesperados, como se temessem uma morte de forma desastrosa e sanguinária...
     Não pude deixar de Lembrar da humanidade.
     Tantos estudos, tantas pesquisas, invenções, descobertas, filosofias, religiões e, no entanto, está bem abaixo do comportamento vivencial recíproco dos animais.
     Recuei a imaginação para longe daquele ambiente, pois certamente não era o lugar para um representante da espécie humana.

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     Neste momento, sinto a brisa da noite carinhosamente acariciar o meu rosto, através do sereno, e a lua ofusca-me levemente os olhos, enquanto as estrelas cintilam, deixando-me distante, ausente, mínimo, pobre animal racional que se diz civilizado, perdido entre os demais.

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     A conservação do meio ambiente não depende de cuidar da preservação da natureza, como pretendem alguns dos movimentos ecológicos. Afinal, ela já tem os seus próprios meios de se cuidar.
     Não adianta combater o efeito quando sabemos que a causa é o próprio homem. Precisamos aprender a viver em harmonia com as demais formas de vida que habitam o planeta.
     Viver não significa destruir desnecessariamente a natureza, na suposta luta pela sobrevivência. Sobretudo, na agressão gratuita contra os pássaros e animais.
     Tudo o que vive merece respeito. Quem não respeita a vida demonstra o quanto é carente de qualidades positivas.
     No ritmo em que seguimos, não levará muito tempo para desencadear um processo de saturação, ao ponto de gerar um desequilíbrio no processo de purificação atmosférico do planeta, terminando por impossibilitar as chuvas e, por conseguinte, a renovação do ar oxigenado e de novas águas...
     Sem a natureza, a Terra será um árido deserto e o homem deixará de existir, ao menos em sua forma física.



      José Nunes Sobrinho
      Naviraí - MS
      Diário do Interior - 27/06/1985

Observação: Esta postagem foi editada pelo Jornal Diário do Interior em junho de 1985 e foi a minha primeira publicação. Todavia, foi escrita um ano antes, quando com ela ganhei o primeiro lugar em um Concurso de Crônicas, com candidatos de todas as séries do 2º Grau de Naviraí MS.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

SEXO E HOMOSSEXUALIDADE



     Eis um assunto complexo, difícil de se chegar a um consenso, uma vez que dele derivam uma enorme variedade de aspectos e comportamentos.
     Através dos tempos, alguns fatores determinaram pontos comuns de compreensão, pelo menos para a maioria. Por exemplo, sexo já não é visto como prática pecaminosa e condenável por Deus. Por outro lado, em consequência, deturpações surgiram ao ponto de uma relação sexual ocorrer exclusivamente por prazer, sem qualquer sentimento, ligação afetiva e mesmo respeito mútuo. Evidentemente este comportamento é infrutífero e tal relação não acrescenta e pouco satisfaz, aumentando a necessidade da incansável busca. Tal prática, sem parceiros fixos e sentimentos, no fundo é apenas uma masturbação a dois.
     Em verdade, mais do que nunca, hoje em dia fica evidente a virtual ligação que existe entre mente e sexo. Muitos o buscam por feroz dependência, numa demonstração de desequilíbrio, próximo à insanidade, apesar da aparente naturalidade externa.
     A prática excessiva, fora de controle, demonstra o domínio do corpo sobre a mente. Onde não há crescimento em virtudes e evolução intelectual, há estagnação, desperdício, vegetação e trevas. Por outro lado, a ausência da prática sexual necessita de uma atividade intelectual muito grande ou muito equilíbrio espiritual, uma vez que a energia sexual, quando reprimida, pode gerar sérios distúrbios, tal um alimento não digerido pelo organismo, chegando a gerar desvios de natureza. Fora estes fatos, quando praticada por amor, vontade de proporcionar felicidade, o ato sexual aumenta o prazer por viver, ativa a união e confiança, além de manter a perpetuação da vida física para a espécie humana.
     Realmente é difícil um consenso. Entretanto, é natural que cada estudioso do assunto tenha sua opinião. A maior evidência de desequilíbrio mental e carência afetiva, como diria Freud, talvez seja a homossexualidade, talvez acima de certos desvirtuamento dos seres humanos obcecados e viciados em sexo.
     Não se trata de uma opinião irrefletida contra a pessoa homossexual, em sua qualidade de ser humano, com retaliação, perseguição e humilhação, como fariam os verdadeiros preconceituosos e homofóbicos. Entretanto, em minha opinião, a maioria dos homossexuais, seja de origem masculina ou feminina, são pessoas doentes em espírito, fracas de equilíbrio espiritual, carentes de sentimentos, perturbadas por traumas e intimamente inseguras. Isto independente de supostos desvios ou falhas genéticas, uma vez que o corpo molda-se em função da atividade mental do espírito, antes de nascer, quando os gametas recém iniciaram o processo de gestação. E sendo uma classe humana expressiva, acredito que isso explica a presença de espíritos evoluídos em seu meio, quais missionários de luz, por amor de Deus. Mas a presença dos bons não anula o erro de outros exibicionistas, depravados e desrespeitosos.


José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS
16/07/1995

ASPECTOS



     Já dizia Confúcio, quinhentos anos antes de Cristo: "Se o Príncipe governa o povo por meio de leis e o mantém unido por meio de castigos, o povo se abstém de agir mal, mas não conhece a vergonha. Se, porém, o Príncipe o conduz por seus bons exemplos e faz reinar a união, regulamentando os costumes, o povo tem vergonha de agir mal e torna-se virtuoso". (Os Analectos).
     Um dos problemas cruciais das sociedades é o desvirtuamento dos seus membros em consequência das leis em vigor. Em verdade, toda lei existe em benefício do homem. Entretanto, vemos frequentemente deturpações em que o homem sofre o rigor ou relapso da lei.
     Basta lembrar que, em certos países, as leis penais são baseadas no código alemão do século dezenove. Ou seja, mais de cem anos de história - o homem pisou na lua, penetrou na era atômica, descobriu maravilhas com a eletricidade e informática, promovendo uma revolução nos padrões de comportamento, na cultura dos povos e nos costumes - mas mesmo assim permaneceu o mesmo princípio básico nas leis.  A essência ficou estacionada no tempo, sofrendo apenas muitos e muitos remendos que anularam o critério de justiça, a tal ponto que já não há um sentido único. Há simplesmente um complexo com inúmeras faces, onde a justiça pende para os melhores subterfúgios apresentados pelos hábeis advogados. O domínio da jurisprudência é maior do que os critérios previamente estabelecidos pelas leis.
     Qualquer ponto de vista pode ser defendido, bastando habilidade jurídica e conhecimento dos malabarismos que as omissões e dúvidas facultam, possibilitando inverter a lógica e a razão e até mesmo enganar, inocentando um culpado e em hipótese pior, condenando um inocente.
     Por isso, chega-se a viver amargos e tristes dias, onde ninguém confia em ninguém; onde, paradoxalmente, constatamos nas grandes cidades bandidos essencialmente bons e defensores da lei corruptamente maus.
     Por outro lado, além das leis serem ultrapassadas, ainda ocorre o mau exemplo de alguns líderes e falsos representantes da sociedade, desde os políticos, aos empresários e aos artistas.   Seria muito bom se o povo tivesse um comportamento ético louvável, mas como isto seria possível, se nem as leis e nem os representantes sociais colaboram nesse sentido?
     Também faltam tradições básicas. Senso pátrio. Costumes populares. Principalmente a valorização da família, célula mater da sociedade e que sofre a corrosão dos perniciosos exemplos veiculados em filmes, novelas e até em notícias. Claro que a impressa é livre. Mas por que o sensacionalismo? Por que mostrar apenas os fatos negativos nas e das notícias?
     O problema maior, é que ninguém assume sua dose de culpa. Todos podem colaborar, pois cada pessoa está no local certo, na hora certa, na função certa, mas falta boa vontade. Falta acreditar. Falta esperança. Ou vergonha.


José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
22/03/1990

QUESTÃO DE FAMÍLIA



     Nos caminhos da vida nem sempre temos a harmonia que desejamos para nossa família. Intrigas surgem. Desentendimentos. Mágoas. Falta de perdão e até ingratidão. Por isso, muitas pessoas esquecem a importância de manter as origens e seguem rumos ignorados, indiferentes, despreocupados com as consequências.
     Todavia, por mais motivos tenha alguém para manter-se afastado, mais cedo ou mais tarde, deve relevar e perdoar. Afinal, a família, no aspecto físico, abaixo de Deus, sempre será a única fonte segura de arrimo nos momentos de crise aguda.
     É importante também mencionar que em família sempre existe uma liberdade acima do normal, ao ponto de uns colocarem-se frontalmente contra outros de forma irredutível em defesa de suas opiniões. Entretanto, tal fato ocorre mais por zelo do que por ódio ou qualquer outro sentimento negativo. Exatamente por isso, nas crises agudas, momentos realmente difíceis, a família será um sustentáculo confiável e seguro.
     Isto é prática experimental de vida independente de teor religioso. Pode-se dizer que é uma questão de instinto. Autopreservação. Quem renega a família cria uma lacuna dentro de si que dificilmente os amigos e amores do mundo conseguirão preencher.
     Sabemos que o ser humano é sociável por natureza e onde for terá de se relacionar com outras pessoas. Terá amores. Fará amizades e algumas delas tão íntimas que suplantarão, por algum tempo, a importância da família.
     Mas por mais confiável que seja uma amizade, por mais cordiais que sejam os membros de uma nova família a que veio irmanar-se, é preciso resolver os problemas com a própria família.  Mesmo porque, muitas vezes, a etiqueta transforma as pessoas, tornando-as dóceis e amáveis. Mas no primeiro ato de contrariedade, no primeiro deslize, por menor que seja, não relutarão em romper com aquela amizade que parecia tão sólida. Tudo será esquecido. Bons momentos, boas palavras, bons atos...
     Em alguns casos, por questões de convicções e opiniões divergentes, há desentendimento com uma determinada pessoa e esta clama aos quatro ventos a ofensa, praticamente obrigando as demais a renegar a amizade, deixando quem errou entregue aos próprios cuidados, no momento em que mais precisa de ajuda.
     Nestes instantes de desequilíbrio, somente os membros da própria família, tal qual pai e mãe e mais alguns, darão apoio para a pessoa se reerguer e sair da crise.
          Há exceções neste conceito. Por exemplo, quando a pessoa encontra uma outra e se unem por amor. Neste caso, ocorrerá o início de uma nova família. Portanto a regra permanece sob uma nova roupagem. Ou mesmo quando a pessoa tem a felicidade de se reencontrar com entes queridos de outras vidas, nos relacionamentos da família espiritual, fato que ainda não anula a necessidade de mútuo relacionamento e obrigações para com a família física.
     Logicamente o objetivo destes comentários não é desarticular a importância das amizades no relacionamento humano, mas sim estabelecer primícias e uma sequência lógica.
     O homem pode realizar de tudo na face da terra; obter o maior sucesso, realização pessoal e social, mas se houver pendências em família, terminará a vida com carência interior. Uma sensação de não ter conseguido nada...
     Portanto, antes que acabe a vitalidade do corpo, resolvam as pendências em família e se reconciliem.
     No mínimo, façam a parte que lhes cabem.  Quanto ao resto, ao Senhor pertence o julgamento.


José Nunes Sobrinho
Itaquiraí - MS
Diário do Interior - 01/08/1993

POESIAS DIVERSAS


                                                                    JORNADA


Primeiro a criança aspira,
Anseia, palpita, projeta.
A Natureza aceita a meta.
A ampulheta no tempo gira...

No peito ofegante juvenil
Sentimentos dominam a criança.
Nos braços meigos da esperança
Fica a inocência infantil...

Adolescente ama perdidamente!
O jovem coração, aprendiz
Delira no cálice - feliz,
A esvaziar-se lentamente...

Tudo passa, diz a experiência,
Não sem dor, clama a razão...
Superar as malhas da paixão
Requer do rapaz persistência.

Por fim, deixa as iniciativas,
Esquece os sonhos de menino,
Aceita da vida seu destino
Sob necessidades imperativas.

Seria fracasso da fantasia?
Jamais! Justifica-se o sujeito,
Pois ainda carrega no peito
Os sonhos acalentados, um dia...

Agora, porém, em verdade,
Um passo por vez, não se ilude,
Ao contrário, em cada atitude,
Sabe que precisa de serenidade!

José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS
Diário do Interior - 24/04/1994 


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ROMANCE  EM  TEMPO  DE  ESTIO  (Outubro-88)

Foram três meses no estio da vida:
Quando, por acaso, nos conhecemos
Eras uma suposta avezinha ferida
Já com o desânimo ao extremo!

Procurei dar-te paz, carinho e amor,
Sacrifiquei interesses na ânsia
De devolver-te a alegria e o vigor
Causticado desde tua infância!...

E foram-me três meses de vida!
Minha alma de caminhante solitário
Recebeu dos teus olhos a prometida
Paz final, para o meu calvário...

Mas ah!... Não disseste ao aparecer
Que nos céus havia um companheiro!
Tão logo pudeste o ânimo soerguer
Alçaste vôo em busca do parceiro!...

Meu coração lamentou em meu peito
E muito angustiou-me a existência...
As limitações tiraram-me o direito
De ofertar-te conforto em equivalência...

Foste embora me jogando na solidão.
Deixaste apenas na súbita partida
A agonia desta terrível conclusão:
Foram três meses perdidos na vida!...

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PAIXÃO  (Junho-89)


Em momento de insana loucura
Lamentei a falta de aventura
Comparando-a a cruz fatal.
Desejei um amor ardente
Que preenchesse completamente
Meu vazio sentimental!

Ocorreu então atroz prova!
Aplicou-me a vida uma sova
Destinando-me ao coração,
Dos sentimentos, o mais arbitrário,
Agradável veneno funerário
Simplesmente rotulado: Paixão!

Ela veio qual tempestade
Destruindo a tranqüilidade
Atraindo toda a atenção.
Chegou fantasiada de amor
Penetrou de forma indolor
Anulando qualquer reação...

Dominou de forma implacável
Deixando-me em estado lamentável,
Qual náufrago maltrapilho
Nas noites de insônia jogado
Por todos os lados bombardeado
Vi-me qual vagão fora do trilho!. .

Quem foi ela?... Que importa?
Pois na verdade a porta
Que levou a esse desvairamento
Foi no íntimo a afoiteza
Conduzida pela fraqueza
De impensado sentimento!

Por fim restou a lição:
É melhor viver sem emoção
Mas com equilíbrio e sossegado
Do que viver cheio de amores
Sofrendo mil horrores
Pela paixão subjugado!

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