Já dizia
Confúcio, quinhentos anos antes de Cristo: "Se o Príncipe governa o povo
por meio de leis e o mantém unido por meio de castigos, o povo se abstém de
agir mal, mas não conhece a vergonha. Se, porém, o Príncipe o conduz por seus
bons exemplos e faz reinar a união, regulamentando os costumes, o povo tem
vergonha de agir mal e torna-se virtuoso". (Os Analectos).
Um dos
problemas cruciais das sociedades é o desvirtuamento dos seus membros em consequência
das leis em vigor. Em verdade, toda lei existe em benefício do homem.
Entretanto, vemos frequentemente deturpações em que o homem sofre o rigor ou
relapso da lei.
Basta
lembrar que, em certos países, as leis penais são baseadas no código alemão do
século dezenove. Ou seja, mais de cem anos de história - o homem pisou na lua,
penetrou na era atômica, descobriu maravilhas com a eletricidade e informática,
promovendo uma revolução nos padrões de comportamento, na cultura dos povos e
nos costumes - mas mesmo assim permaneceu o mesmo princípio básico nas
leis. A essência ficou estacionada no
tempo, sofrendo apenas muitos e muitos remendos que anularam o critério de
justiça, a tal ponto que já não há um sentido único. Há simplesmente um
complexo com inúmeras faces, onde a justiça pende para os melhores subterfúgios
apresentados pelos hábeis advogados. O domínio da jurisprudência é maior do que
os critérios previamente estabelecidos pelas leis.
Qualquer
ponto de vista pode ser defendido, bastando habilidade jurídica e conhecimento
dos malabarismos que as omissões e dúvidas facultam, possibilitando inverter a
lógica e a razão e até mesmo enganar, inocentando um culpado e em hipótese
pior, condenando um inocente.
Por isso,
chega-se a viver amargos e tristes dias, onde ninguém confia em ninguém; onde,
paradoxalmente, constatamos nas grandes cidades bandidos essencialmente bons e
defensores da lei corruptamente maus.
Por outro
lado, além das leis serem ultrapassadas, ainda ocorre o mau exemplo de alguns
líderes e falsos representantes da sociedade, desde os políticos, aos
empresários e aos artistas. Seria muito
bom se o povo tivesse um comportamento ético louvável, mas como isto seria
possível, se nem as leis e nem os representantes sociais colaboram nesse
sentido?
Também
faltam tradições básicas. Senso pátrio. Costumes populares. Principalmente a
valorização da família, célula mater da sociedade e que sofre a corrosão dos
perniciosos exemplos veiculados em filmes, novelas e até em notícias. Claro
que a impressa é livre. Mas por que o sensacionalismo? Por que mostrar apenas
os fatos negativos nas e das notícias?
O
problema maior, é que ninguém assume sua dose de culpa. Todos podem colaborar,
pois cada pessoa está no local certo, na hora certa, na função certa, mas falta
boa vontade. Falta acreditar. Falta esperança. Ou vergonha.
José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
22/03/1990
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