sexta-feira, 5 de abril de 2013

CAMINHOS DO MEDO



     Na juventude, na vigília da noite, no mundo dos sonhos, em espírito, aprendi a voar. Escrevendo assim, parece simples. Entretanto, requereu muita perseverança e alto controle. O maior empecilho foi o medo. Em verdade, no mundo espiritual para onde vamos quando dormimos, vale a força da mente. Acontece exatamente aquilo que imaginamos. 
     Volitar requer muita disciplina. No início, tive pavor de ficar nas áreas urbanas por causa da fiação elétrica. Por mais que tentasse flutuar sobre as cidades, os receios apareciam e o medo de chocar-se contra os fios automaticamente impelia justamente na direção temida. Logicamente, acordar sempre era a única salvação, apesar de horrível retornar ao corpo tão bruscamente.
     A autoconfiança foi fundamental para obter êxito. Esta experiência serviu para ensinar a controlar os impulsos do medo e a não temer inimigos ocultos. Ou seja, àqueles fantasmas que tentam provocar pesadelos e aflições durante o sono físico. Nestes casos, basta acreditar que tudo terminará bem, que tudo está sob controle e procurar sempre fazer uma prece. É infalível. No mundo dos espíritos as orações têm um poder fenomenal.
     Recentemente, sonhei que estava pegando serpentes marinhas. O Instrutor foi claro: Não poderia soltá-las de forma alguma, pois eram muito venenosas.
     Nas primeiras, não tive medo e tudo ocorreu bem. Entretanto, na última, a serpente parecia extremamente lisa. O meu medo fez com que ela realmente ficasse escorregadia ao ponto de não conseguir segurá-la mesmo com ambas as mãos. Ela escapou e tive receio que não fosse embora. De fato, conforme temi, ela não foi! Depois pensei: "Só falta ela morder". A serpente virou-se para mim, como se estivesse impedida de ir embora e tentou de fato picar minhas mãos, não por agressividade, mas porque o meu pensamento a prendia. Rapidamente pensei: "Sou mais rápido. No máximo ela vai conseguir apenas mordiscar". E assim ocorreu. De repente, um descontrole terrível me dominou e não tive outra saída senão acordar. Estava com as mãos doloridas e Precisei esfregá-las para que sumisse as sensações.
     No mundo dos sonhos é assim. Acontece exatamente aquilo que imaginamos. Se deixarmos o medo dominar nossa mente, então ele determinará os acontecimentos. É assim que os espíritos malignos perseguem as pessoas. Apenas exploram o medo, a superstição, as crendices.
     Por outro lado, sabemos que o mundo real é a plasmação daquilo que é primeiramente idealizado na mente. A partir deste raciocínio é fácil compreender que tudo o que ocorre em vida pode ser melhorado ou agravado, dependendo de nossa maneira de pensar. Se enfrentarmos a vida com coragem, fé, otimismo, confiança e determinação, as probabilidades de vencermos serão enormes. Mas se alimentarmos receios, medos, temores, pavores, dúvidas, desconfianças e outras vibrações negativas, logicamente estaremos plasmando mentalmente uma próxima realidade de fracasso.
     Claro que nem tudo depende da nossa mente. Mesmo porque vivemos numa sociedade e assim, estamos sujeitos a sofrer consequências das emanações mentais da coletividade. Porém, no mínimo, podemos e devemos disciplinar nossos pensamentos e medos para obter a coragem e determinação suficiente para o máximo de êxito possível em todos os empreendimentos.
     Não ter medo de nada, é uma forma de coragem. Entretanto, é oportuno lembrar que coragem não é lançar-se intempestivamente contra tudo e todos. Quanto mais medo, maior a necessidade de combater. A ausência real do medo fornece calma, passividade, presença de espírito, consciência tranquila.
     Por maior que sejam as crises ou obstáculos a superar, acreditemos. O medo é o pior inimigo.
     Se crermos em Deus e tiver consciência da vida após a morte física, quem poderá nos vencer?...


José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS 
Diário do Interior - 26/02/1995

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