Na
juventude, na vigília da noite, no mundo dos sonhos, em espírito, aprendi a
voar. Escrevendo assim, parece simples. Entretanto, requereu muita perseverança
e alto controle. O maior empecilho foi o medo. Em verdade, no mundo espiritual
para onde vamos quando dormimos, vale a força da mente. Acontece exatamente
aquilo que imaginamos.
Volitar
requer muita disciplina. No início, tive pavor de ficar nas áreas urbanas por
causa da fiação elétrica. Por mais que tentasse flutuar sobre as cidades, os
receios apareciam e o medo de chocar-se contra os fios automaticamente impelia
justamente na direção temida. Logicamente, acordar sempre era a única salvação,
apesar de horrível retornar ao corpo tão bruscamente.
A
autoconfiança foi fundamental para obter êxito. Esta experiência serviu para
ensinar a controlar os impulsos do medo e a não temer inimigos ocultos. Ou
seja, àqueles fantasmas que tentam provocar pesadelos e aflições durante o sono
físico. Nestes casos, basta acreditar que tudo terminará bem, que tudo está sob
controle e procurar sempre fazer uma prece. É infalível. No mundo dos espíritos
as orações têm um poder fenomenal.
Recentemente, sonhei que estava pegando serpentes marinhas. O Instrutor
foi claro: Não poderia soltá-las de forma alguma, pois eram muito venenosas.
Nas
primeiras, não tive medo e tudo ocorreu bem. Entretanto, na última, a serpente
parecia extremamente lisa. O meu medo fez com que ela realmente ficasse
escorregadia ao ponto de não conseguir segurá-la mesmo com ambas as mãos. Ela
escapou e tive receio que não fosse embora. De fato, conforme temi, ela não
foi! Depois pensei: "Só falta ela morder". A serpente virou-se para
mim, como se estivesse impedida de ir embora e tentou de fato picar minhas
mãos, não por agressividade, mas porque o meu pensamento a prendia. Rapidamente
pensei: "Sou mais rápido. No máximo ela vai conseguir apenas
mordiscar". E assim ocorreu. De repente, um descontrole terrível me
dominou e não tive outra saída senão acordar. Estava com as mãos doloridas e
Precisei esfregá-las para que sumisse as sensações.
No mundo
dos sonhos é assim. Acontece
exatamente aquilo que imaginamos. Se deixarmos o medo dominar nossa mente,
então ele determinará os acontecimentos. É assim que os espíritos malignos
perseguem as pessoas. Apenas exploram o medo, a superstição, as crendices.
Por outro
lado, sabemos que o mundo real é a plasmação daquilo que é primeiramente
idealizado na mente. A partir deste raciocínio é fácil compreender que tudo o
que ocorre em vida pode ser melhorado ou agravado, dependendo de nossa maneira
de pensar. Se enfrentarmos a vida com coragem, fé, otimismo, confiança e
determinação, as probabilidades de vencermos serão enormes. Mas se alimentarmos
receios, medos, temores, pavores, dúvidas, desconfianças e outras vibrações
negativas, logicamente estaremos plasmando mentalmente uma próxima realidade de
fracasso.
Claro que
nem tudo depende da nossa mente. Mesmo porque vivemos numa sociedade e assim, estamos
sujeitos a sofrer consequências das emanações mentais da coletividade. Porém,
no mínimo, podemos e devemos disciplinar nossos pensamentos e medos para obter
a coragem e determinação suficiente para o máximo de êxito possível em todos os
empreendimentos.
Não ter
medo de nada, é uma forma de coragem. Entretanto, é oportuno lembrar que
coragem não é lançar-se intempestivamente contra tudo e todos. Quanto mais
medo, maior a necessidade de combater. A ausência real do medo fornece calma,
passividade, presença de espírito, consciência tranquila.
Por maior
que sejam as crises ou obstáculos a superar, acreditemos. O medo é o pior
inimigo.
Se
crermos em Deus e tiver consciência da vida após a morte física, quem poderá
nos vencer?...
José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS
Diário do Interior - 26/02/1995
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