TRISTEZA
Tenho uma tristeza dentro de
mim
Que bebida alguma pode
preencher
Nenhuma devoção consegue
esvaecer
E na noite do tempo parece
sem fim...
É uma saudade de algo
indefinido
Feito lágrima que fica sem
escorrer
Mas é o suficiente para
escurecer
O pouco de brilho do olhar
perdido...
Talvez seja a fadiga de
tanta ilusão
Na busca seleta de um outro
coração
Que vibrasse comigo num
mesmo ínterim...
Ou talvez as lembranças de
um passado,
De uma outra vida, quando
fui amado.
Mas sei apenas da tristeza,
dentro de mim...
José Nunes Sobrinho
Amambai - MS
Diário do Interior - 18/02/1995
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DOCE AMADA
Por ser alma exilada
DOCE AMADA
Por ser alma exilada
Neste meu corpo carnal
Vejo em ti, minha amada,
Uma bênção celestial.
Amo-te com toda a esperança
Que ainda existe em meu ser
E por sentir tua deslembrança
Muito me desespera, o viver...
Pois és a única realidade
Nas ilusões de minha vida,
És porta de liberdade
Nesta existência sofrida.
És solução para a saudade
Qual companheira na solidão.
És promessa de felicidade
Feito consolo ao coração.
Mas ah!... Por que tanto tardas
Impondo-me esta cruel tortura
De viver neste deserto e guardas
Assim, dos meus males a cura?!...
Contudo, não exijo tua presença,
Apenas aguardo o teu aporte
Vivendo inconsolado a desavença
Da eterna espera: minha Morte!
José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
Setembro de 1988.
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CONFIDÊNCIAS
(Maio-89)
Em certos momentos
Sinto vontade de estar contigo
Sem ninguém por perto
Ou horário certo
Sem passado ou futuro
Sem compromissos ou responsabilidade,
Ao sabor do vento...
Deixando a vida nos levar
Para as experiências que quiser!
Eu ficaria ao teu lado
Sem imaginação alguma
Sem premeditação nenhuma
Deixando tudo acontecer...
E se não acontecesse, não importaria...
Estaria tudo bem por estar contigo!
Mas se acontecesse
Não haveria consequências
Nem responsabilidades ou futuro a pagar!
O mundo não estaria lá fora
Pronto para julgar...
Ah!... Às vezes eu queria estar contigo
Abraçado fragilmente
Sem obrigação de permanecer
Sem tempo para largar...
Para beijar-te o rosto
Tocar-te os lábios como se beijasse
E se desejasse
Realmente beijaria com ardor!
Mas tudo é sonho
Pois o mundo está lá fora
Esperando para condenar!...
Por isso, na realidade me despedaço
Mas nos sonhos me faço
E na vida permaneço!...
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DESABAFO (Maio-90)
Não sinto o coração no peito.
Creio que ele foi desfeito
Pela carência de amor.
Sobrou apenas o vazio,
Palco abandonado e sombrio
Testemunho da minha dor...
Houve um tempo que amei,
Até mesmo pensei
Que poderia ser feliz!
Tive inúmeras afeições
Tanto quanto as decepções
E em cada, outra cicatriz...
Fui por vezes usado
Por fim desprezado
Violentado nos sentimentos.
Obriguei-me após cada paixão
A outro funesto aborto no coração
Ampliando assim os sofrimentos...
O fato é que não sou o padrão
Que agrada a esta geração
De desejos, tão voraz.
Buscam vida instável
Em atitude lamentável
Crendo que tudo tanto faz...
Eu apenas queria ser amado
Sem ter o caráter modificado
Pois seria deixar de existir.
Mas não encontrando solução
Para não mais sofrer na ilusão,
Antes de amar, prefiro desistir...
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"Às
vezes, olho para você e seu sorriso fala-me coisas tão belas, tão afetivas! Mas
seu coração sente medo e seus lábios nada dizem... E meus olhos choram em
silêncio."
SILÊNCIO
(Fevereiro-91)
Não consigo dissimular
A tristeza que insiste em vazar
As lágrimas incontidas no coração.
Não entendo como posso te perder!
Deixar-te assim, escorrer
Qual névoa por entre minhas mãos...
São duas horas da manhã
E eu aqui, tentando compreender...
Nem mesmo rimo mais!
És culta e sensível
De uma beleza singular
A ser vista com a alma
E sentida com o coração.
Eu sinto o calor do teu abraço
A ternura do teu olhar
Quase chegando a ser um carinho,
E vejo-te procurando achar
A porta para o meu ser
Sem perceber
Que para contigo sequer tenho paredes!
Ah!... Vejo tua imagem
Fugir da minha vida
E com ela, numa simbiose,
Também morre o brilho do meu olhar,
A alegria do meu sorriso.
E como se eu tivesse sido
A água no momento da amargura
Mas a sede passou...
Tudo bem. Vá! Seja feliz...
Mas não tente apagar dos meus lábios
Este amargo silêncio...
BRISA
Às vezes
Sinto desejo de ser uma brisa
E pairar levemente pelos ares...
Sem consciência
Nem realidade.
Sem vida própria
Nem vontade.
Sem futuro
Nem passado...
Apenas presente!
Para assim
Não ter que lamentar
A falta daquele carinho
Que sempre chega acompanhada
Da angustiosa saudade
Daquele amor distante...
Quem sabe assim,
Eu não teria que procurar soluções
Para tantos traumas,
Tantos problemas,
Defeitos,
Melancolia,
Depressão,
E, sobretudo,
Solidão!...
Ah!.
Sinceramente!
Às vezes
Sinto vontade de ser só uma brisa,
Para assim,
Fugir de mim mesmo.