sábado, 9 de março de 2013

MARCAS DA DEPRESSÃO


                                                                            TRISTEZA


Tenho uma tristeza dentro de mim
Que bebida alguma pode preencher
Nenhuma devoção consegue esvaecer
E na noite do tempo parece sem fim...

É uma saudade de algo indefinido
Feito lágrima que fica sem escorrer
Mas é o suficiente para escurecer
O pouco de brilho do olhar perdido...

Talvez seja a fadiga de tanta ilusão
Na busca seleta de um outro coração
Que vibrasse comigo num mesmo ínterim...

Ou talvez as lembranças de um passado,
De uma outra vida, quando fui amado.
Mas sei apenas da tristeza, dentro de mim...

José Nunes Sobrinho
Amambai - MS
                                                       Diário do Interior - 18/02/1995 



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DOCE AMADA

Por ser alma exilada
Neste meu corpo carnal
Vejo em ti, minha amada,
Uma bênção celestial.

Amo-te com toda a esperança
Que ainda existe em meu ser
E por sentir tua deslembrança
Muito me desespera, o viver...

Pois és a única realidade
Nas ilusões de minha vida,
És porta de liberdade
Nesta existência sofrida.

És solução para a saudade
Qual companheira na solidão.
És promessa de felicidade
Feito consolo ao coração.

Mas ah!... Por que tanto tardas
Impondo-me esta cruel tortura
De viver neste deserto e guardas
Assim, dos meus males a cura?!...

Contudo, não exijo tua presença,
Apenas aguardo o teu aporte
Vivendo inconsolado a desavença
Da eterna espera: minha Morte!


José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
Setembro de 1988. 

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CONFIDÊNCIAS  (Maio-89)


Em certos momentos
Sinto vontade de estar contigo
Sem ninguém por perto
Ou horário certo
Sem passado ou futuro
Sem compromissos ou responsabilidade,
Ao sabor do vento...
Deixando a vida nos levar
Para as experiências que quiser!

Eu ficaria ao teu lado
Sem imaginação alguma
Sem premeditação nenhuma
Deixando tudo acontecer...
E se não acontecesse, não importaria...
Estaria tudo bem por estar contigo!
Mas se acontecesse
Não haveria consequências
Nem responsabilidades ou futuro a pagar!
O mundo não estaria lá fora
Pronto para julgar...

Ah!... Às vezes eu queria estar contigo
Abraçado fragilmente
Sem obrigação de permanecer
Sem tempo para largar...
Para beijar-te o rosto
Tocar-te os lábios como se beijasse
E se desejasse
Realmente beijaria com ardor!

Mas tudo é sonho
Pois o mundo está lá fora
Esperando para condenar!...
Por isso, na realidade me despedaço
Mas nos sonhos me faço
E na vida permaneço!...

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DESABAFO (Maio-90)


Não sinto o coração no peito.
Creio que ele foi desfeito
Pela carência de amor.
Sobrou apenas o vazio,
Palco abandonado e sombrio
Testemunho da minha dor...

Houve um tempo que amei,
Até mesmo pensei
Que poderia ser feliz!
Tive inúmeras afeições
Tanto quanto as decepções
E em cada, outra cicatriz...

Fui por vezes usado
Por fim desprezado
Violentado nos sentimentos.
Obriguei-me após cada paixão
A outro funesto aborto no coração
Ampliando assim os sofrimentos...

O fato é que não sou o padrão
Que agrada a esta geração
De desejos, tão voraz.
Buscam vida instável
Em atitude lamentável
Crendo que tudo tanto faz...

Eu apenas queria ser amado
Sem ter o caráter modificado
Pois seria deixar de existir.
Mas não encontrando solução
Para não mais sofrer na ilusão,
Antes de amar, prefiro desistir...

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 "Às vezes, olho para você e seu sorriso fala-me coisas tão belas, tão afetivas! Mas seu coração sente medo e seus lábios nada dizem... E meus olhos choram em silêncio."
  


SILÊNCIO   (Fevereiro-91)

Não consigo dissimular
A tristeza que insiste em vazar
As lágrimas incontidas no coração.
Não entendo como posso te perder!
Deixar-te assim, escorrer
Qual névoa por entre minhas mãos...

São duas horas da manhã
E eu aqui, tentando compreender...
Nem mesmo rimo mais!
És culta e sensível
De uma beleza singular
A ser vista com a alma
E sentida com o coração.

Eu sinto o calor do teu abraço
A ternura do teu olhar
Quase chegando a ser um carinho,
E vejo-te procurando achar
A porta para o meu ser
Sem perceber
Que para contigo sequer tenho paredes!

Ah!... Vejo tua imagem
Fugir da minha vida
E com ela, numa simbiose,
Também morre o brilho do meu olhar,
A alegria do meu sorriso.

E como se eu tivesse sido
A água no momento da amargura
Mas a sede passou...

Tudo bem. Vá! Seja feliz...
Mas não tente apagar dos meus lábios
Este amargo silêncio...

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BRISA

 
Às vezes
Sinto desejo de ser uma brisa
E pairar levemente pelos ares...

Sem consciência
Nem realidade.
Sem vida própria
Nem vontade.
Sem futuro
Nem passado...
Apenas presente!

Para assim
Não ter que lamentar
A falta daquele carinho
Que sempre chega acompanhada
Da angustiosa saudade
Daquele amor distante...

Quem sabe assim,
Eu não teria que procurar soluções
Para tantos traumas,
Tantos problemas,
Defeitos,
Melancolia,
Depressão,
E, sobretudo,
Solidão!...

Ah!.   Sinceramente!
Às vezes
Sinto vontade de ser só uma brisa,
Para assim,
Fugir de mim mesmo.

terça-feira, 5 de março de 2013

SONETOS DIVERSOS


                   

 NOSTALGIA



Este toque de nostalgia

É o lamento pelo amor
Que morre de forma fria
Na ausência do meu calor.

Por viver outrora isolado
Agora não tenho convivência.
É a herança do meu passado,
Motivo da minha carência...

Não mais sei amar, é a verdade.
Bem queria não ser assim:
Escravo mesmo em liberdade!

Quem dera amar novamente,
Mas tudo que faço, no fim,
É ser o padre confidente...
 

José Nunes Sobrinho
Itaquiraí - MS
Diário do Interior - 13/08/1993 


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RETALHOS DA VIDA

O suave murmúrio do vento a soprar
Trazia-nos o doce perfume do jardim...
A luz ofuscante na distância a brilhar
Clareava o rubor que se mostrava em mim.


Um quê de indecisão brotava-nos do olhar
Mas nos corpos infantis a ânsia incontida
Falava mais forte, no desejo de amar...
Hoje são lembranças!... Retalhos da vida!


Ah! Adolescência! Noites embriagantes,
Momentos apaixonados onde só o luar
Calado a tudo podia testemunhar!


E, no silêncio da noite, os amantes!
Dois corações ainda tenros, palpitantes!
Mas com o amanhã, tudo viria a terminar...


1985 - Livro POESIAS ROMÂNTICAS


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INICIAÇÃO

Talvez a outra dimensão
Quem me dera de ti fugir!
Porém como assim agir?..
Ah! Pobre de um coração...


Minha alma preste a ruir
Perene na minha visão
Humilde em medo e emoção
Calada pôs-se a te ouvir.


O teu olhar em locução
Previu dores no porvir
Exortando-a não falir...


Acompanhei a orientação
Estático! Sem noção
Vi a tela no céu sumir...



1985 - Livro POESIAS ROMÂNTICAS

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 INÍCIO

Teus olhos serenos de criança
Que viram da vida a amargura
Olharam-me com esperança
Como se eu fosse a tua ventura!


Teus cabelos macios, sedosos,
Que no relento da noite eu vi,
Flutuavam no vento, morosos,
Tão belos que jamais esqueci!


Fascinado, então, contemplei
De perto teu olhar abrasador
E como nunca jamais sonhei


Ou mesmo poderia supor,
Sem resistir, consciente te dei,
Meu coração e todo meu amor!


 1985 - Livro POESIAS ROMÂNTICAS

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TÉRMINO

Você, essência em meu sonho dourado.
Menina e princesa no meu coração.
Você que amei com respeito e educação,
Como flores que crescem lado a lado.


Até que nos seus jovens laços de botão,
Mesmo com experiências do passado,
Entreguei-me cegamente dominado,
Julgando ser essa a única solução.


Porém, fui com injustiça forçado,
Por galhos e ramas de sua geração
A cortar a folhagem da nossa união.


E dessa roseira que eu havia amado,
Vi no meu peito um espinho cravado
Produzir, sem dó, nossa separação...



 1985 - Livro POESIAS ROMÂNTICAS

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TEUS OLHOS

Saudoso, recordo as horas de candura,
Dos pequenos momentos juntos passados,
Daqueles dias chuvosos ou ensolarados,
Quase sempre carregados de ternura!


Registrados em meus olhos fascinados,
Teus sorrisos amáveis até hoje duram
Lembrando nós dois, no palco da aventura,
Naquele recanto do mundo isolados!


Naqueles dias de sinceridade pura,
Em nós não havia falsidade, nem jura,
Ou muito menos desejos obcecados!


Mas o que brilhava e até hoje fulgura
Como jóias de valores inestimados,
Eram os teus olhos, por mim adorados!



 1985 - Livro POESIAS ROMÂNTICAS

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 SOFRER

Sei que se eu examinar
Atentamente o passado
Verei que nunca estive
Completamente abandonado!


Sempre tive os meus amores
E de paixões fui cercado.
Mas... Em mim também existia
Um vazio inexplicado...


Somente após te conhecer
Aprendi o que é realmente
Um cândido e puro amor!


Aprendi a amar sem sofrer!
Ou, falando profundamente,
Sofrer sem ter dor!


 1985 - Livro POESIAS ROMÂNTICAS

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PRINCESINHA

Você é muito graciosa
Nessa postura quase real!
Parece uma fada mimosa,
Sempre nobre e angelical!


Mas escute doce princesinha,
Que tristeza é essa em seu olhar?.
Ah! Que infantilidade a minha!...
Pois se sou a razão desse pesar...


Se eu não fosse orgulhoso assim,
Compreenderia o seu coração
E então você poderia dizer: Sim!


Mas ah!... Triste condição!
Sou tão cego, egoísta, enfim,
Inseguro! Fazendo-a dizer: Não!...


1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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COM SINCERIDADE

Existem momentos em que a saudade
Busca no fundo das minhas memórias
Doces passagens, casos e histórias
Que às vezes me enchem de felicidade!


Criando na mente cenas ilusórias,
Com a alma fugindo da realidade,
Posso sonhar, tomando a liberdade,
De reviver-te, sendo a maior das glórias!


Se eu tivesse na vida, digo a verdade,
Magia e força que fossem acessórias,
A voltar-me as mãos as coisas notórias,


Puras e belas como a tua amizade,
Ao passado eu iria, com sinceridade,
A era em que foste a maior das vitórias!


1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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DRAMA

O agricultor semeia sua terra,
Mas o calor constante do estio.
Queima lentamente o plantio
Como um eterno rival em guerra!


Ele então, nova semente aterra,
Agora, porém, a geada e o frio
A tudo destrói em quadro sombrio!. .
E assim, a esperança se encerra...


Com a alma carregada de dor,
0 Seareiro não tem ilusões!. .
Deixa, magoado, suas plantações..


Tal qual o drama do agricultor,
Aconteceu com o nosso amor,
Na aridez dos nossos corações...

 
1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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DECLARAÇÃO

Mesmo o poeta mais talentoso,
Sábio e melhor dos escritores,
De verbo sempre primoroso,
Pronto a declamar seus amores,


Que evoca em contraste espantoso,
A beleza simples das flores
E a amplidão do céu fabuloso,
Dando-lhes iguais esplendores,


Seria, talvez, insuficiente,
Nos argumentos ao seu dispor,
Para assim, dizer-te fielmente,


Com termos de similar valor,
Essa grandeza onipresente,
Que por ti, representa o meu amor!


1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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LÁGRIMAS

Princesinha, hoje sonhei contigo.
Teus olhos lamentavam minha ausência
Amaldiçoando-me a insana imprudência
Sem saberem que já paguei o castigo...


Ao rejeitar o teu coração amigo
Decretei-me funesta decadência,
Sendo agora náufrago da existência
Vagando incerto sem nenhum abrigo...


Sou semelhante a um mísero mendigo
Pedindo de porta em porta a indulgência
Para o constante tormento a devorar...


Ah!. Com que remorso agora te digo:
- Apesar dessa cruciante distância
Nem mesmo por sonhos deixei de te amar!



1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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ÁRVORES

Comparo o amor com uma simples planta:
No início ela é fragilmente pequena;
Igual uma simpatia, doce açucena,
Graciosa e linda que a todos encanta!


Depois vem a tornar-se resistente,
Semelhante agora a antiga amizade;
Tal qual o sândalo na flor da idade,
Fornecendo sombra e aroma envolvente!


Finalmente chega a fase adulta!
Sequóia de vida eterna, nobre e culta,
É agora cópia verdadeira do amor!


E igual a árvore na mata esquecida
É o amor incorrespondido na vida...
Mesmo tão nobre, não tem nenhum valor...

 
1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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MUSA

Para a minha poesia, consiste
Em néctar da fertilidade,
Esta grata felicidade
Que nestes teus olhos existe!


Qual companheira que persiste
Até nas horas de adversidade
Fornece-me ela emotividade
Mesmo quando me sinto triste!


Parece uma deusa que resiste
Nos charcos da minha maldade
Derramando criatividade!


Com luz divina me cobriste!
Ao inspirar-me a poesia, abriste
Os portais para a eternidade!


 1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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DOCE SONHO

Parecem meigos braços estendidos
Querendo ao meu coração entrelaçar,
Teus cabelos bonitos e compridos,
Negros como uma noite sem luar!


Como se ele já não fosse dominado
Por tua pessoa sempre tão serena;
Como se não fosse, pobre coitado,
Escravo dessa tua pele morena!


Ah!. . Pequena deusa da minha rua,
És tão bela, divina e encantadora!
Terás na vida o que de melhor houver!


Tens um jeito, uma forma toda tua
De agradar, de impor e ser vencedora!
És para sempre meu ideal de mulher!



 1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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VITÓRIA

Na existência atual em que vivo
Sinto o futuro interessante,
O passado muito importante,
O presente fatalmente decisivo...


Sei que trago carma relevante,
Marcas do vil passado nocivo,
A decidir, passar-me o crivo,
Dos rumos atuais, determinante...


E queira Deus, na vida eu consiga,
Vencer o passado escabroso
Marchando a um futuro primoroso!


Vencer as provações sem fadiga,
Para que após o Senhor me diga:
- Vinde a mim, servo vitorioso!


 1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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SONHOS

A vida é tão diferente
Daquilo que imaginamos!
Se fosse como pensamos
Hoje serias, certamente,


A companheira adorada,
Matriz dos nossos rebentos!
Obterias meus acalentos
Em meu peito reencostada!


No entanto, vejo-me agora
Perdido nessa infinita
Solidão que me devora!...


Pensando nessa desdita,
Pergunto-me sem solução:
- Onde estás, doce paixão?!...


 1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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SEXO

Para mim, sexo não é cem por cento
Da razão que motiva a existência.
É a felicidade, sempre a contento,
Encontrada em sadia convivência.


Se houver, entre o casal, compreensão,
Presença de espontâneo carinho,
Eles conseguem uma duradoura união
E afastam as pedras do caminho.


Não vegetam em deprimente orgia
Parecendo animais irracionais,
Para manter frustrada relação...


Proliferam em ninho de harmonia
Como almas eternas irmãs de ideais!
São dois corpos, mas um só coração!


 1987 - Livro VOZES DO CORAÇÃO

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SAUDADE PATERNA

Vejo-te assim: Uma jovem forte
Que cedo perdeu o genitor
Conseguindo após, superar sua morte,
Porém, não sem angústia e dor...


Vejo-te assim: Mostrando ao mundo
Muito dinamismo e força de vontade,
Todavia, guardas ainda, lá no fundo,
Daquele que tanto amavas, a saudade...


Vejo-te assim: Carente de afeto
Buscando nos caminhos da vida
Os mesmos carinhos do amor dileto!


Ah!... Vejo-te buscar com constância
Não apenas a presença da alma querida,
Sim a inocência que tinhas na infância!


1989 - do livro FACE OCULTA

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VIDAS PASSADAS

Ah!. . A vida e seus muitos enigmas!
Mesmo sem te conhecer, amei-te em surdina
Desde a infância, trazendo os estigmas
Da falta do teu amor em minha retina!...


Mas agora, ao reencontrar-te, que digo?
Como trair o sentimento que me inclina
A desejar tua presença sempre comigo?
Como não te amar, se foste minha sina?!..


Mas caso teu anseio seja outro destino
Por amor respeitarei a tua decisão
Enfrentando otimista o meu desatino.


De ti levarei qual grata recordação
Este amor anterior ao ventre uterino
E ser-te-ei mais que amigo, serei irmão!


1989 - do livro FACE OCULTA

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VAZIO

Ao caminhar taciturno e indolente
Vislumbrei no rosto de muita gente
A quem eu encontrava a cada momento
Infindáveis fontes de sofrimentos!


Por trás dos belos sorrisos, eu via
Vincos profundos de atroz agonia.
Todos pincelados pela aflição
Do amor recalcado no coração!...


Todos mostravam os estigmas do amor
Qual peso crucial de angústia e dor!
E eu estava vazio, sem nenhuma emoção...


De repente, percebi minha estagnação!
Notei que o meu vazio sentimental
Pesava muito mais, qual cruz fatal!

 
1989 - do livro FACE OCULTA

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SIMPATIA

Simpatia é um jeito
De viver com alegria
Semeando a cada dia
O sonho do amor-perfeito!


Simpatia é um ideal
De quem sabe com improvisos
Semear carinhosos sorrisos
Com espontaneidade sem igual!


Simpatia é uma virtude
De quem sabe amar a vida
Vendo em todos a alma querida!


Simpatia é a plenitude
De quem vive uma eterna juventude
Feito criança recém-nascida!


1989 - do livro FACE OCULTA

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PERDÃO

Maria Luiza, as tramas do destino
Levaram-na a um outro horizonte
Com a impressão jungida na fronte
De que sou um grandessíssimo cretino!


Entretanto, no que me remonte,
Lembro-lhe que nunca fui grã-fino
E por muito lhe amar, cometi o desatino
Que ofuscou meu sentimento insonte!...


A ânsia do meu caráter masculino
Não suportou, na época, o afronte
De sentir seu repúdio repentino...


Hoje, desejo que este soneto conte:
Sinto nesta distância, um desejo paulatino
Que a paz e o perdão se nos desponte!


1989 - do livro FACE OCULTA

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O BALDE



     Sábado ensolarado muito convidativo a uma boa caminhada.
      Não lembro do motivo. Sei que era preciso comprar um pequeno balde. Após a compra, fiquei olhando as mercadorias expostas nas vitrinas. De repente, escutei um alarido pitoresco de escárnio, oriundo de um pequeno agrupamento de desocupados, estacionados numa esquina, a bailarem feitos embriagados, ora para a direita, ora para a esquerda. Certamente zombavam de algum bêbado. Não reparei exatamente qual o motivo.
     Entretanto, alguns minutos depois, eu acabei por notar o alvo da pilhéria. Não se tratava de bêbado nenhum!
     Era um casal de velhos, ambos dobrados pelo peso da idade.
     Ele trazia no rosto as marcas das aflições, da luta pela sobrevivência. No corpo raquítico, as marcas visíveis da falta de alimentação.
     Ela, por sua vez, sequer conseguia andar. Certamente saíra de algum hospital onde estivera internada, pois a fraqueza era tanta ao ponto do companheiro precisar orientá-la a andar:
  -  Isso meu bem. Agora o pé esquerdo. Agora o outro!...
     Seria de fato uma cena cômica caso não estivesse presente algo sublime. Naquele homem rústico, sem grande ciência dos valores do mundo, desprovido de bens materiais, eu vi a exuberante riqueza do amor!
     Sim! Era magistral sua força de vontade em ajudar a companheira.
     É notório: Diante de mulher jovem, muitos homens são perfeitos cavalheiros. Mas aquela velhinha sequer deveria lembrar se um dia teve juventude.
     Por mulher afortunada quantos não são eternos apaixonados?... Mas aquela anciã nem mesmo possuía recursos para garantir a permanência num hospital.
     Tratando-se, de mulher formosa, muitos homens rastejam vítimas da paixão. Ah!... Mas ela, infelizmente, causaria constrangimentos aos mais compreensíveis espelhos.
     Quantas beldades, na comodidade de lares confortáveis, beneficiadas por todos os recursos, vivem amarguradas na solidão interior, pela ausência de qualquer carinho, de um meigo gesto de amor, de um companheiro de verdade!
     Pensei em clamar à turba irresponsável quem de fato eram os dignos protagonistas da comédia, naquele palco da vida. Mas será que adiantaria?... Quem se importa com o amor?...
     E assim, hipocritamente soltei um sorriso amarelado e segui em frente, saudável, no vigor da juventude, bem vestido, passos firmes, solitário - com o meu balde - sem que ninguém notasse o quanto isto também era  ridículo!

     José Nunes Sobrinho
     Naviraí - MS
     Diário do Interior - 01/06/1990

OTIMISMO



     Deus é luz, liberdade, justiça, verdade, amor, compreensão, perdão...
     É o universo aberto no infinito por todos os horizontes imagináveis!
     Conhecer Deus não é simplesmente frequentar igrejas, ler livros, dar esmolas, isolar-se do mundo, rezar dia e noite e outras práticas comuns e tradicionais da humanidade.
     É compreender a harmonia da vida no universo e contribuir com bons pensamentos, atos e palavras. Para isto, é preciso mudar conceitos, costumes e o nosso próprio interior.
     Mas se alguém, na ânsia de reprimir defeitos, sejam próprios ou alheios, também anula as boas possibilidades, fechando-se na omissão, radicalismo ou descrença, como espera encontrar a Deus ou receber ajuda? 
     Muitos exigem a perfeição do seu próximo sem atinarem que, apesar de ser uma condição imposta pela necessidade da vida dentro do universo, sempre deverá ser iniciada em nós mesmos. Até porque, conhecer as próprias deficiências, as carências e assim aceitar-se, é o primeiro passo para se corrigir e melhorar.
     O ideal é amar o próximo como a si mesmo, mas se alguém não se ama - ou seja, não procura se melhorar, não aprende com os próprios erros, não compreende que é preciso recomeçar sempre, perdoando e relevando - como irá amar o próximo? Quem não respeita a si mesmo, jamais respeitará quem está do seu lado.
     Deve-se valorizar as boas possibilidades. Querer-se bem. Gostar de tudo o que agora pode ou poderá ser feito. Amar e aceitar as pessoas tais quais elas são. Ver sempre o lado positivo e bom de cada ser humano. Compreender que os direitos e deveres são iguais para todos. Ver a natureza e aprender a viver em harmonia e simplicidade. Despojar-se dos pesos angustiosos do passado, dos remorsos, amarguras e demais acontecimentos negativos, pois remoer erros é ocupar o tempo destinado aos acertos. Depois de aprender com os próprios erros, é preciso perdoar-se; ou errou de propósito?...
     É preciso despertar para um novo dia com um sorriso aberto de esperança, de confiança e quando menos esperar, a felicidade baterá na porta, motivada pelas mudanças no padrão mental.
     Tente!

     José Nunes Sobrinho
     Itaquiraí - MS
     Diário do Interior - 28/11/1993