Jorge
Alfredo era bancário há mais de dez anos. Parecia sina, mas tudo quanto tipo de
pagamento, ocorria em sua agência, provocando enormes filas.
No início
ele procurou mecanismos para amenizar a situação, mostrando-se sempre atencioso
e paciente; mas, com o passar dos anos, a vida bancária virou uma rotina e ele
se deixou levar pelo comodismo. O pior é que passou a incorporar as demais
pessoas em sua rotina, esquecido de que eram seres humanos, no mínimo, credores
de um pouco de dignidade e respeito.
Quantas
vezes ele atendera clientes que apresentavam precárias condições de saúde e em
nome das normas, visando acabar com o atendimento extra caixa, simplesmente
determinava:
- O senhor
tem que ir à fila.
- Mas eu não
posso!... Estou doente...
- É fila
única... Rapidinho será atendido!
O pobre
coitado saía cabisbaixo para a fila, destas, tipo labirinto, que deixa a pessoa
enjoada só de nela rodopiar.
Em outros
casos, depois de toda a fila, o cliente chegava ao caixa e diziam-lhe que
infelizmente não havia numerário em espécie para o pagamento.
- Eu não
entendo... O cheque não está bom, é isso?...
Jorge
Alfredo se aproximava:
- O caixa
está dizendo que ora não temos o dinheiro. O Senhor fez previsão?
-
Previsão?... Eu só quero descontar o cheque...
-
Infelizmente é norma. Quantias acima de um teto mínimo têm que se fazer
previsão do saque quarenta e oito horas antes!...
-o-
Pois bem.
Uma bela manhã Jorge Alfredo acordou diferente. Sentia-se leve. Não tardou em
perceber que em sua casa reinava o desespero. Todos choravam dizendo que ele
morrera.
Mas
como?... Se ele estava ali, bem vivinho?... Por que ninguém lhe escutava?... Um
verdadeiro pesadelo!...
Em
verdade, seu corpo morrera na madrugada vítima de um súbito ataque cardíaco.
Vendo seu
desespero, um outro espírito que por ali passava, orientou-o sobre sua atual
situação, sugerindo-lhe buscar ajuda num posto de atendimento ali perto. E
assim ele saiu rua afora.
Para sua
surpresa, ao chegar ao posto de atendimento espiritual, logo foi reconhecido.
- Ah!...
Jorge Alfredo não é?... Pois o senhor tem que entrar naquela fila ali...
Explicou a recepcionista.
- Mas
como?... Fila aqui no céu?... E a organização daqui?...
- É norma
seu Jorge. Além do mais, todos aqueles que estão na fila foram bancários lá na
terra. Agora estão experimentando o próprio remédio...
Ele
refletiu por uns segundos e concordou. Foi para a fila e após intermináveis
minutos chegou ao guichê.
- Não tenho
nenhum registro do seu retorno. O senhor fez previsão?...
- Mas como
previsão?!... Eu morri! Como iria fazer previsão?!...
- São as
regras. - Explicou o atendente. - Se não fez previsão, terá de esperar mais
quarenta e oito horas. Na terra todos se descuidam da saúde do corpo, feitos
suicidas em potencial e chegam aqui antes da hora marcada. Precisamos
providenciar a ficha do desencarne.
Moral da
história: Não somos culpados por todos os erros que ocorrem no mundo, mas
fatalmente sofreremos as consequências do nosso comodismo diante deles.
José Nunes Sobrinho
Itaquiraí - MS
Diário do Interior - 14/04/1993
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