Sábado
ensolarado muito convidativo a uma boa caminhada.
Não lembro do motivo. Sei que era preciso
comprar um pequeno balde. Após a compra, fiquei olhando as mercadorias expostas
nas vitrinas. De repente, escutei um alarido pitoresco de escárnio, oriundo de
um pequeno agrupamento de desocupados, estacionados numa esquina, a bailarem
feitos embriagados, ora para a direita, ora para a esquerda. Certamente
zombavam de algum bêbado. Não reparei exatamente qual o motivo.
Entretanto, alguns minutos depois, eu acabei por notar o alvo da
pilhéria. Não se tratava de bêbado nenhum!
Era um
casal de velhos, ambos dobrados pelo peso da idade.
Ele
trazia no rosto as marcas das aflições, da luta pela sobrevivência. No corpo
raquítico, as marcas visíveis da falta de alimentação.
Ela, por
sua vez, sequer conseguia andar. Certamente saíra de algum hospital onde
estivera internada, pois a fraqueza era tanta ao ponto do companheiro precisar
orientá-la a andar:
- Isso meu bem. Agora o pé esquerdo. Agora o
outro!...
Seria de
fato uma cena cômica caso não estivesse presente algo sublime. Naquele homem
rústico, sem grande ciência dos valores do mundo, desprovido de bens materiais,
eu vi a exuberante riqueza do amor!
Sim! Era
magistral sua força de vontade em ajudar a companheira.
É notório:
Diante de mulher jovem, muitos homens são perfeitos cavalheiros. Mas aquela
velhinha sequer deveria lembrar se um dia teve juventude.
Por
mulher afortunada quantos não são eternos apaixonados?... Mas aquela anciã nem
mesmo possuía recursos para garantir a permanência num hospital.
Tratando-se, de mulher formosa, muitos homens rastejam vítimas da
paixão. Ah!... Mas ela, infelizmente, causaria constrangimentos aos mais
compreensíveis espelhos.
Quantas
beldades, na comodidade de lares confortáveis, beneficiadas por todos os
recursos, vivem amarguradas na solidão interior, pela ausência de qualquer
carinho, de um meigo gesto de amor, de um companheiro de verdade!
Pensei em
clamar à turba irresponsável quem de fato eram os dignos protagonistas da comédia,
naquele palco da vida. Mas será que adiantaria?... Quem se importa com o
amor?...
E assim,
hipocritamente soltei um sorriso amarelado e segui em frente, saudável, no
vigor da juventude, bem vestido, passos firmes, solitário - com o meu balde -
sem que ninguém notasse o quanto isto também era ridículo!
José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
Diário do Interior - 01/06/1990
Nenhum comentário:
Postar um comentário