terça-feira, 5 de março de 2013

SENTIMENTOS



     O que é simpatia?... É uma afeição simples, de momento, nutrida pela admiração a uma outra pessoa. Uma questão de sintonia.  É o toque do olhar de duas almas amigas, há muito distanciadas e que, de repente, se reencontram. É como uma simples semente, diminuta, fácil de se perder.  Pode existir entre pessoas que nunca se viram ou conversaram. É um prelúdio à confiança, à liberdade de exprimir vontades e sentimentos. É quase gostar.
     O que é gostar?...  Se uma simpatia é uma semente, gostar é uma pequenina plantinha, frágil, germinada por atitudes comuns, agradáveis e recíprocas. É um sentimento simples, sujeito a pouca ou muita duração, afinal têm árvores que nunca crescem. Podemos facilmente controlá-lo e tal qual a plantinha, facilmente destruí-lo.
     Gostar é sentir-se bem quando uma determinada pessoa está ao nosso lado e desejar que nunca se vá, mas se for, continuar querendo bem.  É quase amor.
     Mas o que é amor?...  Se gostar é uma plantinha, o amor é uma árvore cujo tronco já não podemos quebrar ao nosso bel prazer e quando tentamos, provocamos apenas angústias que no máximo geram uma mutação.
     Na simpatia temos a liberdade de exprimir vontades e sentimentos; ao gostar, fica uma reserva, um receio de perca e algumas limitações; já no amor, quando recíproco, retorna a liberdade em amplitude total. Para o amor, nada é impossível e nenhum sacrifício é infinito.
     Na simpatia e no ato de gostar os sentimentos estão sob o domínio das pessoas. Elas conservam a individualidade na busca de satisfação, felicidade e compensação.  Mas no amor as pessoas já não procuram ser felizes, mas fazer felizes a quem amam. Amar torna-se mais importante do que receber amor. Simplesmente sente-se bem ajudando, colaborando, produzindo felicidade a uma outra pessoa.
     A simpatia morre ao menor desagrado.  O ato de gostar pode ser destruído por uma afronta, algo que fira em demasia, seja quanto a forma de pensar, agir ou sentir.  Mas o amor é impossível de ser destruído. Quando muito, pode-se reprimi-lo, deixá-lo escondido num canto do coração; mas ele estará ali, algumas vezes até fantasiado de ódio e vez ou outra, algum motivo de lembrança o trará a tona, deixando um gosto de ausência e saudade. O amor apaixonado cria uma dependência e quanto maior a resistência, mais se fortalece. Independente da distância, ele sobrevive.
     A única forma de romper a atração de um amor apaixonado é esgotar a sede da paixão inicial ao ponto de não mais haver motivos de continuar ignorando que amar não é escravizar. Geralmente isto não se consegue numa só vida.  A Paixão por erupção do amor é um fogo que quanto mais queima, mais quer queimar. Mas definitivamente, o maior sofrimento de quem ama é acreditar na morte. 

     José Nunes Sobrinho
     Naviraí - MS
     Diário do Interior - 03/04/1984

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