segunda-feira, 4 de março de 2013

ELEIÇÕES



     Por mais sabedoria se consiga conotar as palavras, nunca atingiremos o objetivo caso o momento presente seja o alvo da reflexão.
     Na penumbra da noite, por mais perto que se esteja da saída, sempre duvidaremos quando alguém indicar-nos um caminho seguro e rápido, mas diferente do traçado original. Adianta falar de amor, esperança ou religiosidade, quantos fatores políticos provocam tantas insatisfações?...
     Justamente por isso fica difícil escrever sobre a crise social, política e governamental reinante nestes dias. Uma verdade nova não tem utilidade se as antigas sequer foram compreendidas. Mas uma certeza amarga o raciocínio das pessoas: A maior parcela de culpa recai justamente sobre as decisões políticas.
     Entretanto, torna-se importante registrar que a política é neutra e benéfica, sendo necessária dentro de qualquer sistema institucional. Por isso, concluímos que a política tem sido mal conduzida e a despeito de alguns bons, ela é dominada por espertalhões, por falsos líderes, verdadeiros mercenários que não se importam com o povo e fazem da política uma mera profissão.
     As nações têm se mostrado por sociedades sem heróis, sem líderes dispostos ao menor sacrifício pelo povo.
     Não há amor, não há respeito, nem renúncia pessoal. Impera o egoísmo e a ganância. Importa somente o dinheiro. Os povos vivem dispersos, perdidos e sem rumo, passando fome nas ruas, sofrendo amarguras dentro dos lares, padecendo em qualquer lugar sem que ninguém se importe, a não ser, por demagogia.
     Será que não existem líderes nestes Países?...
     Claro que existem. Eles estão ocultos, impedidos de demonstrarem indignação, ressaltarem a dor pela miséria do povo, pelo descaso social, pelas quiméricas ações dos governantes. Estão ocultos porque não há espaço para a dignidade, ninguém aceitaria seus valores...
     O sistema ardilosamente ofuscou a visão dos povos de tal maneira que alguns mercenários se perpetuam no poder, anulando as possibilidades de renovação.
     Acaso pensam que um homem sério iria se sujeitar aos  sistemas políticos e tentar governar?... Aliás, acaso um homem digno conseguiria lançar-se candidato?...
     É exatamente este um dos pontos cancerosos no sistema. Não adiantam novas eleições quando os candidatos são sempre os mesmos.
     Afinal, quem governa o faz para si ou em benefício da comunidade?... Se fizer para si, é mercenário. Profissional da política. Todavia, se fizer para o povo é um representante social. Alguém que deixou os seus afazeres para trabalhar para a sociedade. Esta por sua vez é uma responsabilidade de todos. Quem faz parte de uma comunidade é responsável por ela. Portanto, dentro do princípio de democracia, a cada mandato deveria haver renovação dos candidatos, com novos representantes da sociedade, pois todos são responsáveis e a cada tempo, cada um deve fazer a sua parte.
     Entretanto, nos atuais sistemas, com raras exceções, quando muda, ocorre apenas por fachada, por troca de nomes e pessoas, mas a ideologia continua a mesma, corrupta e mercenária.
     Toda eleição é a mesma coisa. Vota-se em Fulano ou Sicrano, mas ambos são profissionais. Basta examinar o passado dos mesmos e veremos que estão na política há muitos anos. Quem em sã consciência iria largar seus negócios por tantos anos para cuidar do governo, a não ser que esteja levando alguma vantagem?... Logicamente, excetuam-se os casos de líderes autênticos.
     Não é a comunidade que escolhe os candidatos. Eles são indicados pelas convenções ou sistema equivalente, onde os homens dignos, sem tradições em política, sequer conseguem passar.
     E mesmo que eles passassem, o sistema está tão viciado, que um bom candidato, por melhor administrador que seja e melhores qualidades tenha, não conseguiria enquadrar-se dentro dos malabarismos, dos sofismas e estratégias para obter os votos necessários.
     Eleição não é a forma de escolher os governantes através do voto, mas sim o mero subterfúgio de optar.


José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS
Diário do Interior - 27/03/1994

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