Por mais
sabedoria se consiga conotar as palavras, nunca atingiremos o objetivo caso o
momento presente seja o alvo da reflexão.
Na
penumbra da noite, por mais perto que se esteja da saída, sempre duvidaremos
quando alguém indicar-nos um caminho seguro e rápido, mas diferente do traçado
original. Adianta falar de amor, esperança ou religiosidade, quantos fatores
políticos provocam tantas insatisfações?...
Justamente por isso fica difícil escrever sobre a crise social, política
e governamental reinante nestes dias. Uma verdade nova não tem utilidade se as
antigas sequer foram compreendidas. Mas uma certeza amarga o raciocínio das
pessoas: A maior parcela de culpa recai justamente sobre as decisões políticas.
Entretanto, torna-se importante registrar que
a política é neutra e benéfica, sendo necessária dentro de qualquer sistema
institucional. Por isso, concluímos que a política tem sido mal conduzida e a
despeito de alguns bons, ela é dominada por espertalhões, por falsos líderes,
verdadeiros mercenários que não se importam com o povo e fazem da política uma
mera profissão.
As nações
têm se mostrado por sociedades sem heróis, sem líderes dispostos ao menor
sacrifício pelo povo.
Não há
amor, não há respeito, nem renúncia pessoal. Impera o egoísmo e a ganância.
Importa somente o dinheiro. Os povos vivem dispersos, perdidos e sem rumo,
passando fome nas ruas, sofrendo amarguras dentro dos lares, padecendo em
qualquer lugar sem que ninguém se importe, a não ser, por demagogia.
Será que
não existem líderes nestes Países?...
Claro que
existem. Eles estão ocultos, impedidos de demonstrarem indignação, ressaltarem
a dor pela miséria do povo, pelo descaso social, pelas quiméricas ações dos
governantes. Estão ocultos porque não há espaço para a dignidade, ninguém
aceitaria seus valores...
O sistema
ardilosamente ofuscou a visão dos povos de tal maneira que alguns mercenários
se perpetuam no poder, anulando as possibilidades de renovação.
Acaso
pensam que um homem sério iria se sujeitar aos
sistemas políticos e tentar governar?... Aliás, acaso um homem digno
conseguiria lançar-se candidato?...
É
exatamente este um dos pontos cancerosos no sistema. Não adiantam novas
eleições quando os candidatos são sempre os mesmos.
Afinal,
quem governa o faz para si ou em benefício da comunidade?... Se fizer para si,
é mercenário. Profissional da política. Todavia, se fizer para o povo é um
representante social. Alguém que deixou os seus afazeres para trabalhar para a
sociedade. Esta por sua vez é uma responsabilidade de todos. Quem faz parte de
uma comunidade é responsável por ela. Portanto, dentro do princípio de
democracia, a cada mandato deveria haver renovação dos candidatos, com novos
representantes da sociedade, pois todos são responsáveis e a cada tempo, cada
um deve fazer a sua parte.
Entretanto, nos atuais sistemas, com raras exceções, quando muda, ocorre
apenas por fachada, por troca de nomes e pessoas, mas a ideologia continua a
mesma, corrupta e mercenária.
Toda
eleição é a mesma coisa. Vota-se em Fulano ou Sicrano, mas ambos são
profissionais. Basta examinar o passado dos mesmos e veremos que estão na
política há muitos anos. Quem em sã consciência iria largar seus negócios por tantos
anos para cuidar do governo, a não ser que esteja levando alguma vantagem?...
Logicamente, excetuam-se os casos de líderes autênticos.
Não é a
comunidade que escolhe os candidatos. Eles são indicados pelas convenções ou
sistema equivalente, onde os homens dignos, sem tradições em política, sequer
conseguem passar.
E mesmo
que eles passassem, o sistema está tão viciado, que um bom candidato, por
melhor administrador que seja e melhores qualidades tenha, não conseguiria
enquadrar-se dentro dos malabarismos, dos sofismas e estratégias para obter os
votos necessários.
Eleição
não é a forma de escolher os governantes através do voto, mas sim o mero
subterfúgio de optar.
José Nunes Sobrinho
Campo Grande - MS
Diário do Interior - 27/03/1994
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