sexta-feira, 5 de abril de 2013

MEIO AMBIENTE



     Hoje de manhã, através da imaginação, caminhei pelos verdes e floridos campos, onde a natureza pinta em traços simples e nítidos, todo o magistral encanto da vida.
     Pequeninos pássaros saudavam a luz do sol com cantos melodiosos de gratidão, paz e amor.
     Meio sonolento, percorri os campos, onde os animais ariscamente fugiam assustados como se estivessem diante de um representante da pior espécie entre os predadores.
     Feito último desperto em toda a criação de Deus, abri os olhos e surpreso constatei que o trabalho há muito começara para algumas diminutas formigas, que desde o crepúsculo, carregavam uma enorme folha, infinitamente maior do que elas!
     Descalço, a cada passo, os dardos afiados das areias, desconhecidos ao meu tato, feriam-me bravamente os pés como se defendessem a pátria amada. Em bramos perceptíveis apenas no reino animal, elas diziam:
  – O que queres em nosso meio, Oh Bicho Homem?...
  – Vai-te daqui!...
     Envergonhado pela própria hereditariedade humana, deixei o orgulho e a vaidade, e indigno que era de permanecer marcando aquela terra imaculada, passei a caminhar pelo leito de um riacho, nas proximidades.
     Mesmo ali, as águas cristalinas, límpidas como deveriam ser nossas almas, em ondulações meigas e educadas, pareciam gentilmente dizer:
  – Moço!... O senhor está barrando nossa passagem. Queira retirar-se do nosso meio, por favor!...
     Altivo e estúpido tentei ignorar aquele pedido tão gentil, por abuso da qualidade de suposto rei da criação, mas fui forçado pelos raios do sol a baixar a altivez do olhar e contemplá-las.
     E nelas, vi os pequeninos peixes que fugiam desesperados, como se temessem uma morte de forma desastrosa e sanguinária...
     Não pude deixar de Lembrar da humanidade.
     Tantos estudos, tantas pesquisas, invenções, descobertas, filosofias, religiões e, no entanto, está bem abaixo do comportamento vivencial recíproco dos animais.
     Recuei a imaginação para longe daquele ambiente, pois certamente não era o lugar para um representante da espécie humana.

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     Neste momento, sinto a brisa da noite carinhosamente acariciar o meu rosto, através do sereno, e a lua ofusca-me levemente os olhos, enquanto as estrelas cintilam, deixando-me distante, ausente, mínimo, pobre animal racional que se diz civilizado, perdido entre os demais.

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     A conservação do meio ambiente não depende de cuidar da preservação da natureza, como pretendem alguns dos movimentos ecológicos. Afinal, ela já tem os seus próprios meios de se cuidar.
     Não adianta combater o efeito quando sabemos que a causa é o próprio homem. Precisamos aprender a viver em harmonia com as demais formas de vida que habitam o planeta.
     Viver não significa destruir desnecessariamente a natureza, na suposta luta pela sobrevivência. Sobretudo, na agressão gratuita contra os pássaros e animais.
     Tudo o que vive merece respeito. Quem não respeita a vida demonstra o quanto é carente de qualidades positivas.
     No ritmo em que seguimos, não levará muito tempo para desencadear um processo de saturação, ao ponto de gerar um desequilíbrio no processo de purificação atmosférico do planeta, terminando por impossibilitar as chuvas e, por conseguinte, a renovação do ar oxigenado e de novas águas...
     Sem a natureza, a Terra será um árido deserto e o homem deixará de existir, ao menos em sua forma física.



      José Nunes Sobrinho
      Naviraí - MS
      Diário do Interior - 27/06/1985

Observação: Esta postagem foi editada pelo Jornal Diário do Interior em junho de 1985 e foi a minha primeira publicação. Todavia, foi escrita um ano antes, quando com ela ganhei o primeiro lugar em um Concurso de Crônicas, com candidatos de todas as séries do 2º Grau de Naviraí MS.

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