Hoje de
manhã, através da imaginação, caminhei pelos verdes e floridos campos, onde a
natureza pinta em traços simples e nítidos, todo o magistral encanto da vida.
Pequeninos pássaros saudavam a luz do sol com cantos melodiosos de
gratidão, paz e amor.
Meio
sonolento, percorri os campos, onde os animais ariscamente fugiam assustados
como se estivessem diante de um representante da pior espécie entre os
predadores.
Feito
último desperto em toda a criação de Deus, abri os olhos e surpreso constatei
que o trabalho há muito começara para algumas diminutas formigas, que desde o
crepúsculo, carregavam uma enorme folha, infinitamente maior do que elas!
Descalço,
a cada passo, os dardos afiados das areias, desconhecidos ao meu tato,
feriam-me bravamente os pés como se defendessem a pátria amada. Em bramos
perceptíveis apenas no reino animal, elas diziam:
– O que
queres em nosso meio, Oh Bicho Homem?...
– Vai-te
daqui!...
Envergonhado pela própria hereditariedade humana, deixei o orgulho e a
vaidade, e indigno que era de permanecer marcando aquela terra imaculada,
passei a caminhar pelo leito de um riacho, nas proximidades.
Mesmo
ali, as águas cristalinas, límpidas como deveriam ser nossas almas, em
ondulações meigas e educadas, pareciam gentilmente dizer:
– Moço!... O
senhor está barrando nossa passagem. Queira retirar-se do nosso meio, por
favor!...
Altivo e
estúpido tentei ignorar aquele pedido tão gentil, por abuso da qualidade de
suposto rei da criação, mas fui forçado pelos raios do sol a baixar a altivez
do olhar e contemplá-las.
E nelas,
vi os pequeninos peixes que fugiam desesperados, como se temessem uma morte de
forma desastrosa e sanguinária...
Não pude
deixar de Lembrar da humanidade.
Tantos
estudos, tantas pesquisas, invenções, descobertas, filosofias, religiões e, no
entanto, está bem abaixo do comportamento vivencial recíproco dos animais.
Recuei a
imaginação para longe daquele ambiente, pois certamente não era o lugar para um
representante da espécie humana.
-0-
Neste
momento, sinto a brisa da noite carinhosamente acariciar o meu rosto, através
do sereno, e a lua ofusca-me levemente os olhos, enquanto as estrelas cintilam,
deixando-me distante, ausente, mínimo, pobre animal racional que se diz
civilizado, perdido entre os demais.
-0-
A
conservação do meio ambiente não depende de cuidar da preservação da natureza,
como pretendem alguns dos movimentos ecológicos. Afinal, ela já tem os seus
próprios meios de se cuidar.
Não
adianta combater o efeito quando sabemos que a causa é o próprio homem.
Precisamos aprender a viver em harmonia com as demais formas de vida que
habitam o planeta.
Viver não
significa destruir desnecessariamente a natureza, na suposta luta pela
sobrevivência. Sobretudo, na agressão gratuita contra os pássaros e animais.
Tudo o
que vive merece respeito. Quem não respeita a vida demonstra o quanto é carente
de qualidades positivas.
No ritmo
em que seguimos, não levará muito tempo para desencadear um processo de
saturação, ao ponto de gerar um desequilíbrio no processo de purificação
atmosférico do planeta, terminando por impossibilitar as chuvas e, por
conseguinte, a renovação do ar oxigenado e de novas águas...
Sem a
natureza, a Terra será um árido deserto e o homem deixará de existir, ao menos
em sua forma física.
José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
Diário do Interior - 27/06/1985
Observação: Esta postagem foi editada pelo Jornal Diário do Interior em junho de 1985 e foi a minha primeira publicação. Todavia, foi escrita um ano antes, quando com ela ganhei o primeiro lugar em um Concurso de Crônicas, com candidatos de todas as séries do 2º Grau de Naviraí MS.
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