sábado, 2 de março de 2013

CAMINHOS DA EXISTÊNCIA

     A existência humana pode revestir-se de trágicos acontecimentos, crimes hediondos, dramas passionais, intrigas, traições, paixões, renúncias, amores e os extremos entre as virtudes e as imperfeições.
     Por outro lado, na longa noite do tempo, buscando a aurora sublime da perfeição, todos estes fatores ficam perdidos nas cinzas do passado, pois cada peregrino da existência leva consigo apenas os valores intelectuais e morais; ou seja, a dilatação dos horizontes mentais e o amadurecimento emocional, face à insignificância pessoal perante o universo.
     Tudo o que acontece na vida serve apenas para mexer com a mente ou com os sentimentos. Tudo passa. Família, amigos, filhos, riqueza, títulos, a vitalidade, desespero ou frieza, risos ou lágrimas. Tudo passa. Diante de cada circunstância de vida, quem aprende alguma coisa, quem desenvolve algum sentimento positivo, este sim aproveita a vida. Tudo na vida serve apenas para proporcionar-nos a oportunidade de evoluir nestes dois referidos valores. E ao pensar em tudo o que acontece, notamos o quanto nós somos tardios em assimilar as lições da vida. Ao invés de aprender pelo amor, sofremos nos caminhos da dor.
     Cada pessoa, antes de nascer, escolhe qual a modalidade de vida será melhor para lhe proporcionar as condições de evolução. Todos pedem para nascer, mesmo que seja inconscientemente. Ninguém recebe filhos aleatoriamente, sem antes ter aceitado a maternidade ou a paternidade, mesmo quando o compromisso limita-se apenas à gestação. É como se cada estilo de vida fosse o remédio apropriado para a doença daquela pessoa. Por isso, existem opções de vida para todas as necessidades. 
     Algumas apresentam um exterior mirabolante, repletas de acontecimentos e fatalidades físicas. Entretanto, outras são guiadas pela introspecção, por sentimentos e reflexões ocultas, impressões individuais que modificam a sucessão dos fatos e determinam o crescimento da consciência. São estes os gritos do silêncio a ensurdecer a razão da lógica humana e a estabelecer o ponto de equilíbrio entre a sanidade e a sabedoria, independente da situação ou imagem exterior. Afinal, a verdadeira guerra na conquista da perfeição é travada no íntimo de cada ser, num universo incomensurável chamado inconsciente. As fatalidades físicas são apenas o mais longo dos caminhos.
     Para que o ser humano seja jogado neste universo íntimo não são precisos acontecimentos ou fatos dramáticos. Pelo contrário, geralmente, basta um gesto impensado, uma palavra inoportuna, uma ação aparentemente insignificante, tal qual uma gota de água no copo transbordante e eis o protagonista mergulhado no mar da vida, indiferente às pessoas ao seu redor; pois nem todos têm a mesma habilidade nesta luta, onde o perdedor e o vitorioso se confundem, uma vez que as angústias bem assimiladas por uns, podem ser insuportáveis para outros. Ninguém pode andar pelo seu próximo. Ninguém consegue sequer transferir uma experiência de vida, pois a falta de parâmetros mentais apropriados obriga o ser humano a concretamente entender uma verdade depois de vivê-la ou sofrê-la.
     Tal qual uma cicatriz cravada na carne, mostrando que um dia aquele corpo sofreu um ferimento, cada circunstância de vida também deixa uma marca no nosso inconsciente. O universo nos devolve em reações todas as energias emocionais e mentais que emitimos. Na vida tudo é energia.
     No fim, constatamos que o homem corre muito por nada; luta sem objetivo definido, julga ter a posse de valores ilusórios e em consequência disto, emite sentimentos sem qualquer importância. Quando a humanidade compreender estes fatos, haverá tolerância, compreensão, respeito, humildade, perdão, solidariedade, amor e paz.
     Finalmente...


José Nunes Sobrinho
Itaquiraí - MS
Diário do Interior - 17/02/1994

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