Esta semana, escutei um senhor de pele negra desabafar que o dia 13 de maio de 1888 não foi a data da libertação dos escravos negros no Brasil. Creio que ele tinha fortes motivos para tal afirmação; entretanto, mesmo dentro de minha pele branca, sou obrigado a discordar.
A liberdade plena não chegou na referida data, mas o dia 13 de maio foi o início. Afinal, quem é realmente livre?... Todos somos ainda escravos de nossos vícios, das conseqüências oriundas de nossas atitudes, de necessidades e ambições que nos obrigam a suportar as imposições das circunstâncias e até de Leis retrógradas.
Brancos, negros, vermelhos, amarelos e até seres de outros matizes, se existirem, todos somos escravos das necessidades e dos efeitos do próprio passado. Sequer conhecemos o que seja liberdade integral e mesmo a morte, conforme sabemos, não fornece a liberdade, pois a vida continua e com ela, toda a carga de responsabilidade.
Entretanto, seria utopia negar o racismo disfarçado que ainda impera. Os Senhores de hoje dão a liberdade de ir e vir, mas anulam os meios, ocupam os espaços, impossibilitando as condições e oportunidades para que a igualdade fique claramente demonstrada em todos os segmentos da sociedade.
Os dominadores do pretérito alimentavam os escravos negros; os de hoje, livraram-se deste incômodo e simplesmente repassam-lhes os recursos para comprarem a própria alimentação de subsistência; acontece que incluíram quase toda a massa humana neste ardil, independente de cor da pele.
Entendo que o dia 13 de Maio de 1888 foi a data da libertação física daquelas pessoas livres em sua terra natal, onde eram donos da própria vida e que após serem capturados por caçadores avaros, foram trazidos para o Brasil em porões imundos, agrupados e empilhados quais objetos, passando necessidades, para serem vendidos, feitos mercadorias.
Quantas mães, pobres mães, viram seus filhos e filhas seguirem rumos desconhecidos ou mesmo perderem a vida por motivos banais?...
Quantos casais foram separados sem qualquer compaixão?... Laços de amor eterno, simplesmente ignorados por uma mera questão de cor da pele. Jovens desacatadas, quais objetos de prazer. Sem falar nos heróis da resistência que derramaram o sangue, muitas vezes, não por orgulho, sim por amor à liberdade. Quantos e quantas não entregaram a vida para que viesse esta liberdade, por menor que fosse?...
Dizer que o dia 13 não foi a data da libertação é simplesmente menosprezar todo o sacrifício e sangue dos pais da raça negra no Brasil.
Em verdade, independente de cor da pele, nós somos ainda imaturos no domínio mental e emocional e quem não sabe andar por si mesmo não pode ser livre integralmente. Temos o livre arbítrio, mas não sabemos usá-lo. Nossas escolhas são viciosas. Nossos passos seguem formando um círculo que não leva a nenhum lugar. Se pouco nós podemos, é porque duvidamos. Em tudo colocamos limites. Somos os nossos próprios carcereiros.
Muitos anos de escravidão serão necessários para que a humanidade aprenda a ser livre. Resta o consolo de saber que as ações podem sofrer controle, mas jamais as ideias, os sonhos e a esperança.
José Nunes Sobrinho
Naviraí - MS
Diário do Interior - 14/05/1988
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